Dificilmente alguém se esqueceu dela. Foi dedicada, culta, dona de uma peculiar intelectualidade e de um refinado o gosto pela poesia, letras e bom vocabulário. De natureza austera e determinada foi firme e soube impor-se diante de estudantes irreverentes da década de 70. Sua presença na sala nos fazia tímidos e comportados, tamanha era sua altivez, sua postura enérgica. Ninguém brincava nas aulas da Prof.ª Maria Antonia Granville. Sua figura extremamente reservada não nos permitia nenhum desacato. Sua aparência sempre simples, sem adornos e sem modismos nos fazia ter a certeza de que sua proposta era unicamente ensinar. Ensinar com perfeição, sem erros, sem reticências, sem vírgulas e sem interrogações absurdas O seu timbre de voz era forte, convicto e certeiro explanava suas teorias de forma objetiva. No quadro negro, sua caligrafia limpa e sem rebuscamentos, gravava os mais belos textos gramaticais e literários. Sua maior qualidade era esta: A arte de escrever corretamente. Mas, não só escrevia com zelo. Falava também, com perfeição, numa pronúncia bela, nítida e clara.
Foi justamente, nesta época que ela me motivou a ler, rimar, declamar e mais do que tudo, a escrever com coerência e perfeição gramatical. Ensinou-me ainda, a construir frases, a construir redações e a expressar pensamentos sempre de forma poética e doce. Rimar, pontuar, acentuar... Ah! Quanto me ensinou!
Fecho meu olhos e ainda a vejo: Alta, magra, cabelos negros sempre amarrados e presos em coque, os olhos grandes, as sobrancelhas fartas e aquelas mãos alvas, movimentando, agitadamente, os dedos finos sem esmalte e sem joias. Esta era a sua maneira de reforçar suas regras: nos gestos firmes, rápidos e sempre foleando livros, provas e apostilas que lhe acompanhavam.
Ninguém da década de 70, poderia falar de ensino ou professores sem se lembrar de Maria Antonia Granville. A mesma, que nos chamava atenção por deslizes ortográficos ou por frases “chulas” pronunciadas na sala de aula. A mesma, que abominava gírias, chavões e que não nos permitia usar o pronome “Mim” no meio da frase.
E com ela, eu realmente aprendi muito mais sobre “mim”. O pronome que deveria ser usado apenas no final da frase. Se eu fosse homenagear Maria Antonia Granville, só poderia ser recordando-me de algumas destas regras que ficaram registradas em minha memória, na minha vida e na de muitos alunos do Colégio Walter Weiszflog. Para homenageá-la, eu teria que me curvar, agradecendo os seus ricos conceitos em Gramática, Língua Portuguesa e Literatura , os quais me ajudam até hoje, nesta minha humilde aptidão em escrever. Para homenageá-la, eu deveria enaltecer sua figura tradicional de Mestra regando suas aulas, com qualidade e com a mesma disciplina que a tornou exemplar e inesquecível.
Mas, ela se foi em 19.03.2012. Lutou com garra. Não se acomodou e até o último instante lapidou seu currículo intelectual e profissional. Não abandonou suas pesquisas, seus trabalhos, nem interrompeu seus projetos e sua participação na sociedade cultural e educativa.
Por isso fará muita falta e estará sempre no rol dos Mestres inesquecíveis. Daqueles que transformam a profissão num verdadeiro sacerdócio.
Quanto a nós, ex-alunos e amigos, resta-nos lembrar, carinhosamente, desta ilustre Pedagoga. Se, bons ensinamentos são eternos e se perpetuam, Maria Antonia Granville se perpetuará. Estará presente em pequenas frases pronunciadas com requinte, em leituras de textos de qualidade e numa bela poesia apreciada ao cair da tarde .
Eu particularmente devo-lhe muito. O que mais dizer agora, além é claro de : Professora Maria Antonia Granville , tua bela missão cumpriu-se! Obrigada por tudo!
FATIMA CHIATI
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