Na casa dos meus pais ( João Chiati e Lourdes), pelos fundos do quintal, havia um portão que dava acesso a uma interessante rua da Vila Leão.Pelo que consigo ainda lembrar, era praticamente intransitável, uma espécie de viela onde se convergiam todos os outros os portões das demais casas daquele trecho.Adultos pouco utilizavam a passagem.Carro então, nunca vi passar.Acho que nem era possível, pois o caminho era estreito e para complicar existia um poço desativado,localizado bem em frente ao quintal da minha casa.Era a Rua da Bomba.A existência do equipamento deve ter originado o nome.E por certo em alguma época deve ter fornecido água às casas locais.Nunca soube detalhes.Mas o que importa mesmo, são os acontecimentos. Ali, na década de 60, nos finais de tarde era comum, nós crianças, nos encontrarmos para brincar.Ao redor do poço circundado por uma mureta de cimento, nos divertíamos até o início da noite ,quando então só as estrelas no céu iluminavam o espaço.Inesquecíveis foram nossas brincadeiras ao entardecer naquela silenciosa ruela da Vila.As meninas brincavam com as bonecas ou de passar anel.Os meninos com suas figurinhas, faziam campeonatos de bafo(nome do jogo).Outras vezes rodavam pião e jogavam bolinha de gude. Lembro perfeitamente que eu, minhas irmãs Joana e Isabel, marcávamos ponto ao redor do poço.Sempre tínhamos a presença de outras crianças e companhias assíduas foram as dos irmãos Luzia e Ademar (família Cardoso), que moravam ao lado da nossa casa.Aquele lugar meio que clandestino, escondido num beco sem saída, exercia um fascínio na criançada da vila . Fecho meu olhos e consigo me ver ali, sentada na borda da mureta que se estendia formando um banco largo de concreto e que me afastava da abertura do poço.Gostava de ficar sentada sobre aquele cimentado sempre morno, aquecido pelo forte sol do dia .O lugar nos acolhia naqueles fins de tarde de uma forma tão aconchegante,que esquecíamos do tempo.Víamos o por do sol , a noite se aproximando.Ouvíamos os sons dos grilos, dos sapos e das aves noturnas. Algumas vezes, eu ouvia um rádio, bem distante, tocando a triste e melancólica Ave Maria.Mas quando as estrelas forravam o céu, era a hora de entrar.Deixávamos a Rua da Bomba novamente solitária e lúgubre.No dia seguinte, retornávamos ao ponto de encontro e ela mais uma vez se enchia de energia e vibrações de alegria da criançada.E tudo se repetia.Mantivemos este hábito por muito tempo .Tornamos aquele espaço escondido tão importante como outros redutos de nossas brincadeiras.A Rua da Bomba foi nosso refúgio, nossa rendição depois de tantas peraltices.Oculta entre casas e quintais abrigou crianças ingênuas e simples que desconheciam perigos e medos .Ofereceu-nos um tempo de paz. Ofertou-nos com um convívio saudável,amigável marcado por risos,brincadeiras e muita felicidade.Hoje só me resta recordar da Rua da Bomba.Nada dela restou.Foi enterrada no passado,abandonada por suas crianças e pelo progresso .Ao seu lado repousam outros recantos também inesquecíveis da encantadora Vila Leão e que nos matam de tanta saudade.