O tempo passa e o tempo não espera. Talvez em função deste pensamento a maioria das pessoas opta por estar sempre correndo, fazendo coisas e se agitando. Não fazer nada se transformou numa praga que assusta e que atemoriza pobres mortais. Assisti um debate com a participação da Psicóloga Roseli Sayão, onde o tema “ociosidade” foi discutido de forma bem interessante. Falou-se do quanto o mundo moderno vem contribuindo para que as pessoas se tornem cada vez mais agitadas. Todos querem estar sempre fazendo alguma coisa, correndo de um lado para outro e resolvendo coisas. Parece que o ser normal é aquele que está permanentemente estressado, movimentando-se e numa busca constante por ocupações. Tornou-se extremamente necessário viajar com frequência, sair aos finais de semana ou instalar-se rotineiramente em badalações sociais. Tudo vale desde que as atividades metabolizem o veneno invisível da insatisfação íntima ou que, pelo menos, amenizem as angústias do cotidiano. As pessoas passaram a evitar a solidão e por isso fogem até, daquela ociosidade saudável que as levariam a uma companhia ,extremamente rica, consigo mesmas. Correm, correm, dormem mal, comem apressadamente, riem cautelosamente, desgastam-se desnecessariamente e morrem lentamente. Nem percebem, mas morrem... Em doses homeopáticas.
Mas, porque não dão uma trégua e se entregam às delícias da ociosidade? Não a ociosidade doentia, escorada na preguiça, no desinteresse por melhores condições de vida. Esta realmente é destrutiva. Falo da ociosidade amiga, relaxante, companheira e que também é criativa. Falo da ociosidade saudável, que energiza , que revigora e que nos desperta para nós mesmos, para nossas verdades e para nosso autoconhecimento. Falo da ociosidade que acalma, reestabelece e que renova as células e o espírito.
Porque tenho que correr feito uma louca o dia inteiro para me sentir viva e útil? Porque tenho que estar no tumulto diário para provar que ainda sou participativa? Porque tenho que me aniquilar esgotando minha resistência física e mental para garantir meu lugar no mundo contemporâneo? Ausência de amor próprio? Necessidade de sentir-se importante?
Estou fora disto! Quero não fazer nada! Sempre que possível quero fechar os olhos num canto silencioso da minha casa e... Nada pensar, nada fazer. Quero ler calmamente os textos, as notícias que me interessam. Quero dormir muito e quero acordar sem ter que marcar cartão de ponto em qualquer lugar que seja. Quero sair e voltar nos horários que bem me convier sem ter que me culpar por ter abandonado outras tarefas diárias. Quero brindar a ociosidade!
Posso é claro! A aposentadoria traz esta vantagem. Mas creio que mesmo aqueles, que ainda exerçam suas tarefas profissionais, devam com mais frequência se entregar a este deleite: O de nada fazer. Parar, desacelerar, diminuir o ritmo, entregar-se ao sossego pode ser extremamente saudável. Voltar à realidade depois de um inebriante brinde ao ócio pode despertar nossa grande energia, força e capacidade para realizar grandes e novos feitos.
Brindemos a ociosidade, sem culpas, sem preconceitos e sem temores! Afinal ninguém é de ferro! Correr demais pode um dia nos fazer tropeçar. Aí o brinde será proibido e só remédios transbordarão as taças tão frágeis de nossa existência.
Saúde a todos!
Fatima Chiati
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