Uma pessoa recentemente desabafou comigo suas dificuldades financeiras com os gastos da casa. Pensando no assunto recordei o meu passado.
Fui criada numa rigidez que hoje, só agradeço. No meu primeiro salário, aos 18 anos, fui orientada pela minha madrinha a dividir o modesto valor em 3 partes: Uma, iria para uma caderneta de poupança,outra para ajudar nas despesas da casa e a última, finalmente, para eu gastar como quisesse, contanto que, durasse até o próximo mês. Seguindo esta rotina as coisas melhoraram e evoluíram na minha vida. A sabedoria da mulher que me criou, ao me fazer colaborar em casa, estabeleceu em mim os valores da responsabilidade. Nunca reclamei. Ao contrário, mensalmente, respondia a um verdadeiro inquérito sobre o destino das 3 partes do meu salário. A determinação tinha que ser cumprida sem reclamações e desta forma, aprendi a administrar meus gastos, controlar corretamente minhas necessidades, meus recursos e realizar alguns dos meus sonhos.
Estranho hoje, que os jovens sejam excluídos da responsabilidade de dividir o custeio familiar.Estranho ver alguns pais numa postura tão exageradamente protecionista que não possibilita e nem exige a participação de todos nas despesas.Participação que ao meu ver ,nos transforma em adultos independentes e que não sendo exigida ,infantiliza e induz a um comodismo quase que permanente.
Não compreendo também o que impede um filho de ajudar espontaneamente seus pais, principalmente nos momentos de crise. Para mim, contribuir foi sempre motivo de orgulho e em nenhum instante me senti explorada. Ao contrário me senti importante.
Talvez hoje , alguns pais, reprimidos em épocas passadas, acreditem que uma educação mais liberal seja mais saudável .Acreditam que serão melhores arcando com tudo sempre e que os filhos serão mais felizes nesta condição.
Puro engano! Parece não ser bem assim. A relação complicada entre pais, filhos e finanças vai muito além destas tradições impostas.
Os pais ainda continuam cheios de dúvida. Preferem se colocar na posição de super heróis pagando pelo que podem e pelo que não podem.Sentem-se no controle pelo simples fato de não pedirem “arrego”. Receber ajuda financeira de filhos passa a ser sinal de humilhação e nestas condições se esfolam e se desdobram para se sentirem mais amados ou mais presentes. Outro engano que, só muito tempo depois se percebe.
Analisando o lado oposto, tendo como base minha experiência pessoal, concluo que, se por longo tempo, usufruímos da proteção e guarda de pessoas tão especiais, nada mais justo do que dar uma “mãozinha” nos momentos mais difíceis. Afinal, se caminhamos por nossas próprias pernas é porque num passado, estas pessoas nos ensinaram os primeiros e decisivos passos.
Arcar eternamente com despesas financeiras de quem quer que seja não parece ser o melhor. Assim, normal é que os filhos participem e assumam gastos da casa como forma de exercitar a capacidade de independência. Sem contar ainda que, gestos solidários desta natureza acabam intensificando ainda mais o vínculo e a união familiar.
Em família, aprendemos tudo ,até as coisas mais práticas, como pagar contas. Assimilar esta matemática básica nos transporta a realidades menos cruéis e nos faz fincar os pés no chão aceitando simples e valiosas obrigações. E como o tempo sempre ensina muita coisa, num momento qualquer certamente também saberemos contabilizar os sentimentos de entrega e dedicação de pessoas importantes em nossas vidas. O fechamento desta planilha também será notório. Descobriremos que retribuir nunca será um fardo e sim uma ação positiva, um gesto majestoso, gratificante e acima de tudo, sinalizador de amor e reconhecimento. Para mim pelo menos foi assim.
FATIMA CHIATI