Em tempos de tantos problemas existenciais nunca se falou tanto, como agora ,sobre a almejada felicidade. Livros são editados sobre o tema. Orientações são oferecidas a todo instante em rádio, TV e pela própria internet. Há citações de fórmulas, comportamentos, atitudes e os mais variados treinamentos para se alcançar o sonho constante de todos os seres humanos: Ser feliz.
Obviamente, se felicidade fosse uma coisa simples ou de raras controvérsias, seria ensinada em salas de aula, vendida em lojinhas de souvenires e importada dos mais variados países. Sempre a gosto do cliente.
Mas, por sorte ou azar, ser feliz é complicado. Dá trabalho e é difícil de se padronizar. Daí ser impossível sua industrialização.
Enquanto isto não acontece, nós simples mortais, vamos buscando aqui, procurando ali, indagando lá , numa tentativa incansável de vivenciar esta plenitude de satisfação.
Se, para uns ser feliz é navegar num mar calmo de conforto material, luxo, dinheiro, pouco trabalho e muito status, para outros ser feliz é estar no pico da realização profissional e emocional, colecionando títulos, fama e popularidade. Em outro extremo, para alguns, é simplesmente curtir a vida, sem preocupações e sem tantas responsabilidades.
Independente à classe social de cada um, certo é que, todos sem exceção aspiram por essa tal felicidade que nem sempre é completa e que na maioria da vezes é tão transitória como a própria vida.
Verdade é que, sentir-se feliz sempre foi muito árduo e juntar um pouquinho de tudo seria o ideal. Realização emocional, com uma dose sensata de realização material, nunca foi pecado e nem utopia. Até se faz necessário. Mas então, porque a dificuldade em vivenciar isto?
Penso que a resposta esteja em nós mesmos, eternos insatisfeitos, dominados por nossa desmedida vaidade e prepotência que, inevitavelmente, nos impede de enxergar os discretos sinais que a vida nos apresenta. Muitas vezes estamos até bem próximos dela. Mas não percebemos. A felicidade se distancia dos míopes espirituais, dos gananciosos, dos vingativos, dos vaidosos, dos intolerantes e dos egoístas . E só bate à porta mesmo, dos generosos , dos humildes, dos entusiasmados, dos bem humorados , dos descomplicados e dos que estão sempre de bem com a vida ( aqueles ,descritos por mim em outra crônica).
Felicidade não rodopia por salões luxuosos, nem transita em carros importados. Não ostenta adornos exuberantes, pois já é a própria joia da alma e do coração humano. Não se fantasia, não usa disfarces, não esconde verdades, não oculta vontades. Felicidade não usa maquiagem e nem vive de aparências. Felicidade abomina a representação. Não chora o leite derramado, o passado traumatizante ou o futuro incerto. Felicidade simplesmente extasia-se com momentos intensos, singelos e únicos. Mesmo que curtos. Mesmo que rápidos.
Felicidade é apenas uma postura positiva e corajosa diante da vida e das dificuldades. É a plena consciência de que, sorrir é sempre mais estimulante que lamentar-se. Felicidade é puro sentimento de amor e compreensão à vida, às pessoas , às contradições humanas e a tudo que torna os sentimentos ainda mais indecifráveis.
Mas, há quem só a enxergue além. Além das possibilidades, além do permitido, além do possível e além do que é de direito.
E aí, nestes casos, infelizmente a busca se torna ,de fato, inútil.
FATIMA CHIATI