A escassez de água em S.P me fez voltar no tempo quando, em 1980, eu já trabalhando na Emed (Hospital Regional de Caieiras) presenciei um acontecimento bastante interessante: A instalação de um poço artesiano.
Há mais de 35 anos Caieiras já enfrentava racionamentos e um hospital, logicamente, não poderia conviver com uma ameaça deste tipo, já que as atividades estavam muito associadas a este bem tão precioso. Procedimentos, higienização e muitos equipamentos dependiam de muita água. O poço artesiano então, foi a única alternativa, apesar do alto custo. O processo de sondagem e perfuração demorou quase vinte dias pois, com uma profundidade de 100 metros, a obra realizada pela Jundsondas teve que vencer um grande obstáculo ao encontrar uma imensa rocha no meio do trajeto. Lembro que o evento foi mesmo cinematográfico e jamais visto por nós funcionários ou pela maioria das pessoas da cidade. Caminhões e máquinas se ancoraram no pátio central instalando canos, torres, plataformas e ferragens entre os belíssimos e centenários coqueiros existentes. Nós funcionários, Médicos e até alguns vizinhos próximos ficávamos de longe assistindo tudo e admirando aquela grande cena. Finalmente, vencendo-se o obstáculo, canos e bomba foram introduzidos chão abaixo. A água maravilhosa que jorrou daquele poço foi em seguida canalizada para as caixas sobre o prédio e dias depois o Hospital passou a se abastecer de sua própria fonte, resolvendo finalmente a questão “abastecimento”. Mas, se água prometia ser boa à saúde pelo seu PH alcalino , foi contudo, péssima para alguns encanamentos de ferro, ainda antigos e também às válvulas hidras. Um problema se resolvera, mas outro surgira. Assim... Passou-se a trocar os reparos destas peças sanitárias com um pouco mais de frequência. Até aí.. Menos mal!
Curioso mesmo foi que, a água daquele poço virou estrela, de tão famosa, tão comentada e tão enaltecida. As pessoas queriam experimentá-la, beber da sua fonte. O Sr. Pedro Muro ( antigo Juiz de Paz de Caieiras) foi uma destas pessoas que, morando próximo, se fartou daquelas águas, indo diariamente, com suas garrafas, coletar um pouco da poção milagrosa, numa das torneiras do jardim do Hospital. Dezenas de vezes, logo pela manhã, eu me deparei com aquele senhor baixinho, simpático e ainda casamenteiro em Caieiras . Todos os dias, fielmente, lá estava ele, agachado em frente à torneira do pátio enchendo os seus jarros. Certa vez, bem rapidamente ele me disse: “Essa água faz bem pra saúde, os donos me deixaram pegar um pouco dela, todos os dias”. E haviam deixado mesmo! A cordialidade dos proprietários e Diretores da Emed sempre foi um referencial positivo na região. E não somente o senhor casamenteiro se fartou daquela santa água. Outros vizinhos também foram socorridos quando a Sabesp por algum motivo decretou racionamento. Muitas vezes uma mangueira enorme saindo do Hospital, atravessou muros e ruas para socorrer alguém em plena estiagem. Foram tempos em que as enxurradas eram apenas de amizade e solidariedade! Tempos em que caieirenses e Emed se unificavam numa grande família.
Mas como tudo passa, isto também passou. Alguns já partiram, como o querido e saudoso Juiz de Paz Sr.Pedro Muro. O Hospital já pertence a outro grupo e muitos que ainda vivem talvez nem se lembrem da majestosa cena de perfuração daquele poço .
Eu, no entanto, jamais me esquecerei e me lembrarei sempre de cada detalhe, cada dificuldade e daquela água abençoada que só aproximou ainda mais cada um de nós.
Bons tempos!
Fatima Chiati.
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