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10/11/2014
O poço artesiano do hospital

A escassez  de água em S.P me fez voltar no tempo quando,  em 1980, eu já trabalhando na Emed (Hospital Regional de Caieiras) presenciei um acontecimento bastante interessante: A instalação de um poço artesiano.
Há mais de 35 anos Caieiras já enfrentava  racionamentos e um hospital, logicamente, não poderia conviver com uma ameaça deste tipo, já que as atividades estavam muito  associadas a este bem tão precioso. Procedimentos, higienização  e muitos equipamentos dependiam de muita água. O poço artesiano então, foi  a única alternativa, apesar do alto custo. O processo de sondagem e  perfuração demorou quase vinte dias pois, com uma profundidade de 100 metros, a obra realizada pela Jundsondas  teve que vencer  um grande obstáculo ao encontrar uma imensa  rocha no meio do trajeto.  Lembro que o evento foi mesmo  cinematográfico e jamais visto por nós funcionários ou pela maioria das pessoas da cidade. Caminhões  e máquinas se ancoraram no pátio central instalando canos, torres, plataformas e ferragens  entre os belíssimos e centenários  coqueiros existentes. Nós funcionários, Médicos e até alguns vizinhos próximos  ficávamos  de longe assistindo tudo e admirando aquela grande cena. Finalmente, vencendo-se  o obstáculo, canos  e bomba foram introduzidos  chão abaixo. A água maravilhosa  que jorrou daquele poço foi  em seguida canalizada  para as caixas  sobre o prédio  e dias depois o Hospital passou a se abastecer de sua própria fonte, resolvendo finalmente a questão  “abastecimento”.  Mas, se água prometia ser boa  à  saúde  pelo seu PH alcalino , foi contudo, péssima para  alguns  encanamentos de ferro, ainda antigos e também às  válvulas hidras. Um problema se resolvera, mas outro surgira. Assim... Passou-se a trocar os reparos destas peças sanitárias com um pouco mais de frequência.  Até aí.. Menos mal!
Curioso mesmo foi que, a  água daquele poço virou estrela, de  tão famosa, tão comentada e tão enaltecida. As pessoas queriam experimentá-la, beber da sua fonte. O Sr. Pedro Muro ( antigo Juiz de Paz de Caieiras) foi uma destas pessoas que, morando próximo, se fartou daquelas águas, indo diariamente, com suas garrafas,  coletar  um pouco da poção milagrosa, numa das torneiras do jardim do Hospital. Dezenas de vezes,  logo pela manhã, eu me deparei com aquele  senhor  baixinho, simpático  e ainda casamenteiro em Caieiras . Todos os dias, fielmente,  lá estava ele,  agachado em frente à torneira do pátio enchendo os seus jarros. Certa vez, bem  rapidamente  ele me disse: “Essa água faz bem pra saúde, os donos me deixaram   pegar um pouco dela, todos os dias”. E haviam deixado  mesmo! A cordialidade  dos proprietários e Diretores da Emed sempre foi   um referencial positivo na região. E não somente  o senhor casamenteiro  se fartou  daquela santa água. Outros vizinhos também foram socorridos quando a Sabesp por algum motivo decretou  racionamento. Muitas vezes uma mangueira enorme saindo do Hospital, atravessou  muros  e ruas para socorrer alguém   em plena estiagem. Foram tempos em que  as  enxurradas  eram apenas  de  amizade e solidariedade! Tempos em que caieirenses  e Emed  se unificavam  numa grande família.
Mas como tudo passa,  isto também passou. Alguns já partiram, como o querido e saudoso Juiz de Paz  Sr.Pedro  Muro. O Hospital já pertence  a outro grupo e muitos que ainda vivem talvez nem se lembrem da majestosa  cena de perfuração daquele  poço .
Eu, no entanto,  jamais me esquecerei e me lembrarei sempre de cada detalhe, cada dificuldade e daquela água abençoada que só aproximou ainda mais cada um de nós.
Bons tempos!

Fatima Chiati.
www.fatimachiati.com.br