Hoje ao receber uma entrega pelo Correio, admirada pela eficiência do serviço, voltei no tempo e à minha adolescência quando, no final da década de 60, ainda não usufruíamos desta rapidez toda. As correspondências em Caieiras, naquela época, tinham um itinerário bem mais complexo. “O Correio”, ou melhor, a unidade prestadora da cidade funcionava numa casa antiga da Empresa Melhoramentos, do lado direito da estrada, bem adiante do Grupo Escolar Otto Weiszflog. Não havia entregas em casa. Tínhamos que nos deslocar até o local. Lá ficava o funcionário, atrás de um balcão cheio de gavetinhas e nichos que acomodavam as correspondências da cidade. A “Casa Correio” de Caieiras era de tijolinho à vista, janelas verdes, buxinhos e chão de tijolo vermelho na entrada. Na sala principal, encostada à parede, tinha uma prateleira, sempre repleta de envelopes comuns e outros brancos com bordas verdes, sinalizando que eram cartas aéreas. Por algum tempo fui, semanalmente, àquela unidade, juntamente com minha amiga de ginásio Iliana Flores Dias . Ela enviava cartas aos seus familiares e eu também levava as minhas, só que bem diferentes das dela, pois só continham, cupons e pedidos de fotos de ídolos da TV.
Convencida pela propaganda da Revista “ Amiga”, eu recortava os tais cupons , os preenchia e os encaminhava à redação. Neles eu pedia fotos de ídolos, como Tarcísio Meira, Regina Duarte, Claudio Marzo, Roberto Carlos e outros tantos também famosos. Endereçava para a Rua Von Martius, no Rio de Janeiro e fazia a remessa através do Correio Caieirense. Cumpri este ritual por muitos meses. Economizava e tirava as moedas do cofrinho só para concretizar este humilde sonho de menina deslumbrada por galãs da TV . Dezenas de vezes eu e Iliana saímos do alto da Cresciúma, e a pé, sob um sol escaldante, nos dirigimos à Agencia, naquela casa antiga e isolada à beira da estrada. Quando lá chegava eu já me identicava para saber se havia algo em meu nome. O funcionário então, procurava, procurava... Mas nada encontrava. Nunca recebi uma foto que fosse e frustrada acabei desistindo de mais um sonho infantil. Desisti, pois talvez tenha percebido que aquilo era só marketing para vender a revista e que eu, certamente, estava gastando ,inutilmente, todas as minhas economias. Mesmo assim, continuei indo ao Correio acompanhando minha amiga Iliana, que sempre enviava e recebia cartas de alguém mais distante. Eu naquela fase sonhadora só enviei mesmo, aqueles cupons cheios de ilusões juvenis e fantasias ingênuas de adolescente fanática por seus ídolos. Mais tarde, já adulta, pude e tive a quem escrever cartas... Muitas cartas! E nelas pude selar todos os meus sentimentos e minhas emoções. Em nenhum momento imaginei desistir deste hábito tão singelo e afetuoso. Mas, a tecnologia forçou-me a mudar comportamentos. E os Correios também mudaram suas funções. Passaram a entregar extratos, boletos, compras online e raramente, as saudosas cartas de amizade ou amor. Hoje preferimos mandar e-mails, postar recados e fotos em redes sociais e nada mais tem a mesma magia. Escrever cartas virou coisa do passado. Logicamente, também hoje, ninguém mais caminharia 3 ou 4 Km para enviar uma correspondência, como eu e Iliana fizemos há mais de 45 anos atrás. Fomos firmes na nossa peregrinação ao Correio Caieirense e sem lamentações por qualquer dificuldade, pudemos vivenciar uma experiência incomparavelmente linda: Remetemos emoções, afetos e saudades. Enviamos cartas, sentimentos e até cupons repletos de sonhos, numa época de pura poesia . E tudo foi tão importante, que ainda guardo fortemente selado em minha mente e em meu coração todas estas de belas recordações.
FATIMA CHIATI.
Comentário sobre crônica do “correio” da Fátima
Então, a Fatima quando bem jovem vinha da Cresciuma para a Estrada Velha de Campinas, onde, próximo à Estação Caieiras de trem, ficava o correio. Menina de tantos sonhos ela enviava cartas para na resposta delas receber fotos de artistas. Talvez ela não saiba que o correio era meio “devagarreio”, sem carteiros, mesmo antes de se situar na estrada. Antes ele ficava ao lado da escola de Caieiras, vizinho da família Souza. Também quase defronte ao correio era onde a maquininha de passageiros ficava estacionada antes de partir para o Bairro da Fábrica. Ao partir, às vezes, levava também a correspondência do correio para ser distribuída na portaria dois (da estaçãozinha de concreto) e na portaria um, o outro acesso aos funcionários da Indústria Melhoramentos de Papel do Bairro da Fábrica. As cartas ficavam “de pé” encostadas nas vidraças das portarias e os “guardas” as davam aos destinados delas. Por muitos anos a conhecida Gioconda Lisa muito bem administrou os serviços do correio, quando a Fatima ainda não havia nascido. Sim, existiam dois tipos de envelopes, um para correio aéreo e outro mais simples para postagem terrestre. Gozado, não? Naqueles tempos os envelopes não continham cola. Lá no correio para colá-los existiam uns vidros transparentes cujas tampas deles tinham uma espécie de escovinha para serem introduzidas na cola. Era comum a borda daqueles vidros ficarem com colas já secas estreitando-a e dificultando a introdução da escovinha até a cola. Era mais fácil introduzir o dedo para com ele colar o envelope. A cola era feita com goma-arábica, se não me engano. Nestes tempos não mais temos a curiosidade ou emoção ao abrir uma carta porque, as mensagens agora mais são enviadas via internet e a Fátima não precisa umedecer os selos na língua.
Altino Olympio