Versão para impressão

06/05/2014
O antigo Correio de Caieiras

Hoje ao receber uma entrega pelo Correio, admirada pela eficiência do serviço, voltei no tempo e à minha adolescência quando, no final da década de 60, ainda não usufruíamos desta rapidez toda. As correspondências em Caieiras, naquela época, tinham um itinerário bem mais complexo. “O Correio”, ou melhor, a unidade prestadora   da cidade funcionava numa casa antiga da Empresa  Melhoramentos, do lado direito  da estrada, bem adiante do Grupo Escolar Otto Weiszflog. Não havia entregas em casa. Tínhamos que nos deslocar até o local. Lá ficava  o funcionário, atrás  de um  balcão cheio de gavetinhas e nichos que acomodavam as correspondências da cidade. A “Casa Correio” de Caieiras era de  tijolinho à vista, janelas verdes, buxinhos e chão de tijolo vermelho na entrada. Na sala principal, encostada à parede, tinha uma prateleira, sempre repleta de envelopes comuns e outros brancos com bordas verdes, sinalizando  que eram cartas aéreas. Por algum tempo fui, semanalmente, àquela unidade, juntamente com minha amiga de ginásio  Iliana  Flores Dias . Ela enviava cartas aos  seus familiares e eu  também levava as minhas, só que  bem diferentes das dela, pois só  continham, cupons e  pedidos de fotos de ídolos da TV.
Convencida  pela propaganda da Revista “ Amiga”, eu  recortava os tais cupons , os preenchia e os  encaminhava  à redação. Neles eu pedia fotos de ídolos, como Tarcísio Meira, Regina Duarte, Claudio Marzo, Roberto Carlos e outros tantos também famosos.  Endereçava  para a Rua Von Martius, no Rio de Janeiro e fazia a remessa através do Correio Caieirense. Cumpri este ritual por muitos meses. Economizava e  tirava as moedas do cofrinho só para  concretizar este humilde sonho de menina deslumbrada por galãs da TV . Dezenas de vezes eu e Iliana saímos  do alto da Cresciúma, e a pé, sob um sol escaldante, nos dirigimos à Agencia, naquela casa antiga e isolada à beira da estrada. Quando lá chegava eu já me identicava para saber se havia algo em meu nome. O funcionário então, procurava, procurava... Mas  nada encontrava. Nunca recebi uma foto que fosse e frustrada   acabei desistindo de mais um sonho infantil. Desisti, pois talvez tenha percebido  que aquilo era só  marketing para vender a revista  e que eu,  certamente, estava  gastando ,inutilmente, todas as minhas economias. Mesmo assim, continuei indo ao Correio acompanhando  minha amiga Iliana, que sempre  enviava e recebia  cartas de alguém  mais distante. Eu naquela fase sonhadora só enviei mesmo, aqueles  cupons cheios de   ilusões juvenis e fantasias ingênuas de adolescente fanática por seus ídolos. Mais tarde, já adulta, pude e tive a quem escrever cartas... Muitas cartas! E nelas pude selar todos os meus sentimentos e minhas emoções. Em nenhum momento imaginei desistir deste hábito tão singelo e afetuoso. Mas, a tecnologia forçou-me a mudar comportamentos. E os Correios também mudaram suas funções. Passaram a entregar extratos, boletos, compras online e raramente, as saudosas cartas de amizade ou  amor. Hoje preferimos mandar e-mails, postar recados e fotos  em redes sociais e nada mais   tem a mesma magia. Escrever cartas virou coisa do passado. Logicamente, também hoje, ninguém mais caminharia 3 ou 4 Km para enviar uma correspondência, como  eu e Iliana fizemos há mais de 45 anos atrás. Fomos firmes na nossa peregrinação ao Correio Caieirense e sem  lamentações por qualquer dificuldade, pudemos vivenciar uma experiência incomparavelmente linda: Remetemos emoções, afetos e saudades. Enviamos  cartas, sentimentos e  até cupons repletos de sonhos,  numa época de pura poesia . E tudo foi  tão importante,  que ainda  guardo fortemente  selado em minha mente  e em meu coração  todas estas  de belas recordações.

FATIMA CHIATI.

 

 

Comentário sobre crônica do “correio” da Fátima

 

Então, a Fatima quando bem jovem vinha da Cresciuma para a Estrada Velha de Campinas, onde, próximo à Estação Caieiras de trem, ficava o correio. Menina de tantos sonhos ela enviava cartas para na resposta delas receber fotos de artistas. Talvez ela não saiba que o correio era meio “devagarreio”, sem carteiros, mesmo antes de se situar na estrada. Antes ele ficava ao lado da escola de Caieiras, vizinho da família Souza. Também quase defronte ao correio era onde a maquininha de passageiros ficava estacionada antes de partir para o Bairro da Fábrica. Ao partir, às vezes, levava também a correspondência do correio para ser distribuída na portaria dois (da estaçãozinha de concreto) e na portaria um, o outro acesso aos funcionários da Indústria Melhoramentos de Papel do Bairro da Fábrica. As cartas ficavam “de pé” encostadas nas vidraças das portarias e os “guardas” as davam aos destinados delas. Por muitos anos a conhecida Gioconda Lisa muito bem administrou os serviços do correio, quando a Fatima ainda não havia nascido. Sim, existiam dois tipos de envelopes, um para correio aéreo e outro mais simples para postagem terrestre. Gozado, não? Naqueles tempos os envelopes não continham cola. Lá no correio para colá-los existiam uns vidros transparentes cujas tampas deles tinham uma espécie de escovinha para serem introduzidas na cola. Era comum a borda daqueles vidros ficarem com colas já secas estreitando-a e dificultando a introdução da escovinha até a cola. Era mais fácil introduzir o dedo para com ele colar o envelope. A cola era feita com goma-arábica, se não me engano. Nestes tempos não mais temos a curiosidade ou emoção ao abrir uma carta porque, as mensagens agora mais são enviadas via internet e a Fátima não precisa umedecer os selos na língua.

 

Altino Olympio