13/03/2013
Os bons tempos da Pharmacia

Na semana passada fui até o bairro da Lapa- S.P e após entrar em várias farmácias e drogarias, um fato curioso me chamou a atenção. Em todas, sem exceção havia filas, cadeiras estofadas para espera  e até aparelhos emissores de senha. Tudo isto comprovando,  é claro, a grande  demanda por produtos do ramo.
Lembrei que, há 30, 40 anos atrás, o dono do estabelecimento,  trabalhava praticamente sozinho, exercia todas as funções e devidamente  paramentado com seu  jaleco  ultra branco. Atendia o balcão, aplicava injeções, media a pressão, a temperatura  e até recebia o valor, numa obsoleta  e manual  caixa registradora. Naquela época a tranquilidade de uma Farmácia funcionava como um recinto de paz onde, muito raramente, os dissabores de um cliente  doente tumultuava  a  circulação do ambiente. Hoje tudo é diferente. Farmácia que  já não se escreve mais com “Ph” transformou-se num verdadeiro  mini shopping, onde se vende de tudo, além é claro, dos produtos  medicamentosos. Algumas fazem até recarga de celulares aumentando ainda mais a movimentação. Os funcionários foram quadriplicados e o Farmacêutico nem sempre está atrás do tradicional balcão. Está nos fundos do estabelecimento, ocupado  e  abarrotado por tarefas  puramente burocráticas, exigidas por leis  e determinações dos conselhos regionais . O número de doentes parece também ter aumentado. A população idosa está com  uma sobrevida maior e o  gênero humano infelizmente, parece estar mais frágil e muito mais suscetível às agressões e malefícios do mundo moderno. Vivemos a era do stress, da agitação e do desgaste tanto  físico como psíquico. Vivemos os tempos das ansiedades, depressões e angústias provenientes de conquistas nem sempre tão necessárias. Vivemos o universo das academias, dos cursos de autoajuda, dos psicotrópicos e das ditaduras em prol de uma  juventude eterna. Vivemos o tempo da comercialização imposta onde, medicamentos das mais diversas marcas e origens prometem longevidade e boa qualidade de vida.
Talvez por isto a superlotação nas farmácias. A  missão no entanto,  é puramente  comercial e  há muito tempo se  aboliu aquela  imagem encantadora de estabelecimento familiar, onde uma boa conversa  com “ o homem do jaleco branco” era capaz até de amenizar os desconfortos da dor. Mas, os tempos são outros. Farmácia não é mais “Pharmacia”. E romantismo à parte, isto só é lembrado ainda por nostálgicos como eu.
Mas, voltando à Farmácia... Da Lapa... Após um bom tempo esperando e observando, imaginei então como seria se, no  Brasil, pudéssemos contar  com bons sistemas de saúde, boas escolas, bons transportes públicos, boas moradias, empregos não escravizantes e principalmente com governantes mais preocupados com a  sociedade. Imaginei como seria se, as pessoas fossem mais felizes, menos estressadas, menos exploradas e mais satisfeitas com a própria vida. Imaginei como seria  se não houvesse mais as filas imensas  para se comprar remédios  ou  lenitivos para tantas  dores e frustrações humanas . Imaginei... Imaginei.
Mas e as farmácias? Sobreviveriam do quê?  Venderiam o quê?
Criatividade por certo  não faltaria. No mundo capitalista muito se cria e logicamente  não haveria problema maior. Não houve em épocas  idílicas da  “Pharmacia”.
Utopia? Loucura?  Pode ser!  Ah! Acordei! Voltei à realidade!
O que  estava eu  fazendo ali? Flutuando em sonhos? Afinal, fui comprar apenas uma caixa de adoçantes. Não era preciso senha  e muito menos enfrentar  filas!  Peguei o adoçante, paguei e saí... Rapidinho! (risos)

Fatima Chiati                                                                                       www.fatimachiati.li9.com.br

 

Comentários:

A
Fatima não é do tempo de quando farmácia era pharmácia e não era supermercado
como é hoje. Lá no Bairro da Fábrica de Papel de Caieiras havia uma com “ph”
que ficava defronte ao Filtro Rein. O Senhor Eziquel era o farmacêutico ou
pharmacêutico. Seus três filhos, o Eliel, o Gerson e o “Palito” (assim como
este era conhecido) foram criados a base de cheiro de álcool desinfetante e de
esparadrapo que significava não deixar sair besteiras pela boca. Sabe-se que
existiam purgantes com sabor de cereja, mas, adoçantes artificiais nem pensar. Agora
existem no Bairro da Lapa, pois, foi lá que a Fatima foi comprar e ainda
“furou” a fila.    Altino Olympio

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