Na semana passada fui até o bairro da Lapa- S.P e após entrar em várias farmácias e drogarias, um fato curioso me chamou a atenção. Em todas, sem exceção havia filas, cadeiras estofadas para espera e até aparelhos emissores de senha. Tudo isto comprovando, é claro, a grande demanda por produtos do ramo.
Lembrei que, há 30, 40 anos atrás, o dono do estabelecimento, trabalhava praticamente sozinho, exercia todas as funções e devidamente paramentado com seu jaleco ultra branco. Atendia o balcão, aplicava injeções, media a pressão, a temperatura e até recebia o valor, numa obsoleta e manual caixa registradora. Naquela época a tranquilidade de uma Farmácia funcionava como um recinto de paz onde, muito raramente, os dissabores de um cliente doente tumultuava a circulação do ambiente. Hoje tudo é diferente. Farmácia que já não se escreve mais com “Ph” transformou-se num verdadeiro mini shopping, onde se vende de tudo, além é claro, dos produtos medicamentosos. Algumas fazem até recarga de celulares aumentando ainda mais a movimentação. Os funcionários foram quadriplicados e o Farmacêutico nem sempre está atrás do tradicional balcão. Está nos fundos do estabelecimento, ocupado e abarrotado por tarefas puramente burocráticas, exigidas por leis e determinações dos conselhos regionais . O número de doentes parece também ter aumentado. A população idosa está com uma sobrevida maior e o gênero humano infelizmente, parece estar mais frágil e muito mais suscetível às agressões e malefícios do mundo moderno. Vivemos a era do stress, da agitação e do desgaste tanto físico como psíquico. Vivemos os tempos das ansiedades, depressões e angústias provenientes de conquistas nem sempre tão necessárias. Vivemos o universo das academias, dos cursos de autoajuda, dos psicotrópicos e das ditaduras em prol de uma juventude eterna. Vivemos o tempo da comercialização imposta onde, medicamentos das mais diversas marcas e origens prometem longevidade e boa qualidade de vida.
Talvez por isto a superlotação nas farmácias. A missão no entanto, é puramente comercial e há muito tempo se aboliu aquela imagem encantadora de estabelecimento familiar, onde uma boa conversa com “ o homem do jaleco branco” era capaz até de amenizar os desconfortos da dor. Mas, os tempos são outros. Farmácia não é mais “Pharmacia”. E romantismo à parte, isto só é lembrado ainda por nostálgicos como eu.
Mas, voltando à Farmácia... Da Lapa... Após um bom tempo esperando e observando, imaginei então como seria se, no Brasil, pudéssemos contar com bons sistemas de saúde, boas escolas, bons transportes públicos, boas moradias, empregos não escravizantes e principalmente com governantes mais preocupados com a sociedade. Imaginei como seria se, as pessoas fossem mais felizes, menos estressadas, menos exploradas e mais satisfeitas com a própria vida. Imaginei como seria se não houvesse mais as filas imensas para se comprar remédios ou lenitivos para tantas dores e frustrações humanas . Imaginei... Imaginei.
Mas e as farmácias? Sobreviveriam do quê? Venderiam o quê?
Criatividade por certo não faltaria. No mundo capitalista muito se cria e logicamente não haveria problema maior. Não houve em épocas idílicas da “Pharmacia”.
Utopia? Loucura? Pode ser! Ah! Acordei! Voltei à realidade!
O que estava eu fazendo ali? Flutuando em sonhos? Afinal, fui comprar apenas uma caixa de adoçantes. Não era preciso senha e muito menos enfrentar filas! Peguei o adoçante, paguei e saí... Rapidinho! (risos)
Fatima Chiati www.fatimachiati.li9.com.br
Comentários:
A
Fatima não é do tempo de quando farmácia era pharmácia e não era supermercado
como é hoje. Lá no Bairro da Fábrica de Papel de Caieiras havia uma com “ph”
que ficava defronte ao Filtro Rein. O Senhor Eziquel era o farmacêutico ou
pharmacêutico. Seus três filhos, o Eliel, o Gerson e o “Palito” (assim como
este era conhecido) foram criados a base de cheiro de álcool desinfetante e de
esparadrapo que significava não deixar sair besteiras pela boca. Sabe-se que
existiam purgantes com sabor de cereja, mas, adoçantes artificiais nem pensar. Agora
existem no Bairro da Lapa, pois, foi lá que a Fatima foi comprar e ainda
“furou” a fila. Altino Olympio
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