Ao longo da vida vamos conhecendo, colecionando e arquivando carinhosamente pessoas em nossos corações. Comigo foi assim, principalmente, depois de 35 anos trabalhando numa mesma empresa.
Para falar de todas eu teria que escrever um livro, tamanha a importância de cada uma em minha vida. Hoje, porém, escreverei apenas sobre a minha grande amiga Maria Ap. Tomasetto, companheira de tantos anos e cuja amizade teve início lá, na década de 70.
Incrível, como o tempo fortaleceu nosso relacionamento sempre amistoso e calmo. Nem mesmo as turbulências e dificuldades profissionais nos afastaram ou abalaram o vínculo intensificado pela convivência diária.
A hierarquia estabelecida ou qualquer adversidade profissional também, não foram capazes de estremecer ou romper os laços tão fortemente atados pela parceria contínua. Muito pelo contrário, à medida que o tempo passava, mais afinidades surgiam tornando a amizade inabalável. Fomos, porém, a simbologia dos opostos. Eu como gerente, quase sempre autoritária, agitada e inflexível. Ela, ao contrário subserviente, dócil e solidária. Eu por perfeccionismo profissional, intolerante e exigente demais, exigindo esforços sobre humanos. Ela compassiva, colaboradora e dotada de uma boa vontade imensurável .Melhor que eu e com um bom humor contagiante, soube driblar momentos difíceis, sublimar a crueldade do stress e temperar assim, com suas inesquecíveis gargalhadas, situações de muito desgaste físico e mental.
Ofereceu-me o ombro amigo sempre que estive a um passo do desmoronamento emocional. Soube me ancorar, e me acompanhar quando tantos simplesmente criticaram. De maneira descontraída foi profissional dedicada, honesta e em nenhum momento se aproveitou de nossa amizade para se avantajar. Nunca me afrontou. Acatou com humildade, determinações nem sempre agradáveis. Não se apoderou do certificado de amiga para invadir minha privacidade ou tentar me influenciar negativamente. Foi leal, decente, íntegra e de uma generosidade jamais vista. Soube ouvir, rir, falar e chorar no momento exato e na medida certa. Soube acima de tudo, silenciar, compreender e aceitar.
Hoje entendo que, Cida Tomasetto, com sua bondade e calma, foi na verdade, dotada de uma sabedoria única e rara. Sabedoria que ela , inteligentemente, soube transformar em ferramenta, para driblar momentos de tensão, conflitos e dificuldades.
Vivenciamos experiências fantásticas por mais de três décadas. Compartilhamos problemas sonhos, expectativas, realidades desgastantes e muitas alegrias também.
Nada ruiu nossas estruturas que, dia a dia se tornaram ainda mais sólidas. Trafegamos por caminhos tortuosos, cheios de pedras e encruzilhadas ,mas nunca desistimos. Permanecemos e sobrevivemos apoiadas é claro, na solidez da amizade.
Atualmente, afastadas da empresa, ainda mantemos frequente contato e praticamos com satisfação este belo exercício de companheirismo e solidariedade . Dividimos as mesmas emoções do passado na certeza de que seremos , eternamente ,amigas e acima de tudo, irmãs de coração pois, amizades verdadeiras são assim. Não morrem nunca, não definham, sobrevivem ao tempo, ao espaço e nos dão a certeza de que são os maiores bens da vida.
Pouco importa também se, Marias, Martas, Lias, Jandiras ou Lucis. Todas marcam por um dia terem atravessado, lindamente, nosso caminho e por conseguirem de alguma forma florir nosso trajeto e nossa existência. E nesta constatação todas serão sempre homenageadas. Como ela, Cida Tomasetto.
FATIMA CHIATI