30/06/2012
Os filhos na planilha financeira

Uma pessoa  recentemente desabafou comigo suas dificuldades financeiras com os gastos da casa. Pensando no assunto recordei o meu passado.
Fui criada numa rigidez que hoje, só agradeço. No meu primeiro salário, aos 18 anos, fui orientada pela minha madrinha a dividir o modesto valor em 3 partes: Uma, iria para uma caderneta de poupança,outra para ajudar nas despesas da casa e a última, finalmente, para eu gastar como quisesse, contanto que, durasse até o próximo mês. Seguindo esta rotina as coisas melhoraram e evoluíram na minha vida. A sabedoria da  mulher que me criou, ao me fazer colaborar em casa, estabeleceu  em mim os valores da responsabilidade. Nunca reclamei. Ao contrário, mensalmente, respondia a  um verdadeiro inquérito sobre o destino das 3 partes do meu salário. A determinação tinha que ser cumprida sem reclamações e  desta forma,  aprendi a administrar meus gastos, controlar corretamente minhas necessidades, meus recursos e realizar alguns dos  meus sonhos.
Estranho hoje, que  os jovens sejam  excluídos da responsabilidade de dividir o custeio familiar.Estranho ver alguns pais numa postura tão exageradamente protecionista que não possibilita e nem exige a participação de todos nas despesas.Participação que ao meu ver ,nos transforma  em adultos independentes e que não sendo  exigida ,infantiliza  e  induz a um   comodismo quase que  permanente.
Não compreendo também o que impede um filho de ajudar espontaneamente seus pais, principalmente nos momentos de crise. Para mim, contribuir foi sempre motivo de orgulho e em nenhum instante me senti explorada. Ao contrário me senti  importante.
Talvez  hoje , alguns pais, reprimidos em épocas passadas, acreditem que uma educação  mais liberal seja mais saudável .Acreditam que serão melhores arcando com tudo sempre e que os filhos serão mais felizes nesta condição.
Puro engano! Parece não ser bem assim. A relação complicada entre  pais, filhos e finanças vai   muito além destas tradições impostas.
Os pais  ainda continuam   cheios de dúvida. Preferem se colocar  na posição de super heróis pagando pelo que podem e pelo que não podem.Sentem-se no controle  pelo simples fato de não pedirem “arrego”. Receber  ajuda financeira de filhos passa  a ser sinal de humilhação e   nestas condições se esfolam e se desdobram para se  sentirem mais amados ou mais presentes. Outro engano que, só  muito tempo depois se percebe.
Analisando o lado oposto, tendo como base minha experiência pessoal,  concluo que, se por longo tempo, usufruímos da proteção e guarda de pessoas tão especiais, nada mais justo do que dar uma “mãozinha” nos momentos mais difíceis. Afinal, se caminhamos   por nossas  próprias pernas é porque num passado, estas pessoas nos ensinaram  os primeiros e decisivos passos.
Arcar eternamente com despesas financeiras de quem quer que seja não parece ser o melhor. Assim, normal   é que  os filhos participem e assumam   gastos da casa como forma de  exercitar a capacidade de independência. Sem contar  ainda que,  gestos solidários desta natureza  acabam  intensificando ainda mais   o vínculo  e a  união familiar.
Em família, aprendemos tudo  ,até as   coisas mais  práticas, como pagar contas. Assimilar esta matemática básica nos transporta a realidades menos cruéis e  nos faz fincar os pés no chão aceitando  simples  e valiosas obrigações. E como o tempo sempre ensina muita coisa,  num  momento qualquer certamente também saberemos   contabilizar os sentimentos de entrega e dedicação   de  pessoas importantes em nossas vidas.  O fechamento desta planilha também será notório. Descobriremos que retribuir  nunca  será  um fardo e sim  uma ação  positiva, um gesto majestoso, gratificante e acima de tudo, sinalizador  de amor e reconhecimento. Para mim pelo menos foi assim.


                                                            FATIMA CHIATI


Fátima Chiati

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