18/06/2012
A Segunda dança no Salão Nobre .

Minha segunda apresentação no Salão Nobre da Melhoramentos foi mais tranqüila.Já tinha noção do espaço e do ambiente e ele já não me era tão estranho como na primeira vez.Assim mesmo, ainda causou insegurança.Desta foi uma apresentação solo.Eu seria única.Seria o centro das atenções, dos olhares e da expectativa familiar de que eu não errasse nada.Aliás,este ponto, não errar nas tarefas sempre foi minha obsessão( neurótica)  ao longo da vida.Não por temor,mas por desejar sempre a aprovação de pessoas queridas.Portanto,de novo, ensaiei,treinei e me preparei para o acontecimento.Ainda cursava o Jardim de Infância.Tinha 6 anos.O ano era 1963.Minha madrinha (Dona Cida Sant’Anna) ,como sempre, carinhosamente confeccionou minha fantasia.Catedrática no assunto,ela transformou um vestido de festa de uma das filhas naquele vestido lindo de florista,meu novo personagem a ser representado.Lembro que ele era longo,todo em “tule” lilás claro,pontilhado de branco e com um forro acetinado da mesma cor.Na parte superior as palas e mangas  tinham babados,laços e fitas.A saia toda franzida nada mais continha,pois os saiotes armavam o suficiente para dar o recado.Como toda florista que se preze, eu usaria chapéu e levaria uma cesta de flores.O chapéu era grande de abas enormes, também lilás, tinha uma fita longa, para ser amarrada no meu pescoço e não cair.A cesta revestida de tecidos,laços e fitas foram preenchidas com muitas flores do campo.Eu assim caracterizada de pequena florista,entraria pelo salão,dando voltas em toda sua extensão e terminaria na beira do palco atirando flores à platéia.Estudei a música centenas de vezes até decorá-la.Não poderia esquecer .Estaria sozinha,sem minhas amigas,sem nenhum acompanhamento instrumental e nada que pudesse me socorrer numa situação de emergência.Mas não errei.Entrei,toda produzida,cantando.Cantei alto.Muito alto porque disseram que, do contrário, ninguém ouviria.A minha voz saiu mas meu olhos nada viram.Eu ouvia apenas a  minha própria voz.Não consegui ver ninguém na platéia .Eu só pensava na música e na letra.Fiquei anestesiada, com a minha voz ecoando na minha cabeça e só retornei à realidade no final,já atirando as flores ao público que me aplaudia.Deixei o palco do Salão Nobre feliz,realizada e até hoje consigo lembrar e cantar aquela música cuja melodia e letra marcaram meu coração me levando de volta no tempo onde :
“Sou a pequena florista
Mimosa como um botão.
Trago em minha cesta de fitas ,flores em profusão
  Lírios,cravos,violetas.
  Mas quem quiser, eu não dou
  Pois eu não vendo de graça
  Isto não,isto não.
  Oh! Que belas! até de vender tenho dó.
  Branca,azul e amarela,mas eu não vendo de graça...Isto não!


Fátima Chiati

Leia outras matérias desta seção
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » Religiosidade e religião de amor
 » Caminhar é preciso
 » Recordações da Av. dos Estudantes
 » Os gênios do Colégio Walter Weiszflog
 » Fragilidades de todos nós
 » As mentiras na Internet
 » Reverências aos nossos amores
 » O amor fora do ar
 » Amor, política e relacionamentos
 » As históricas enchentes de Caieiras
 » Homenagem às mulheres
 » Algo mais
 » Trégua de Natal
 » Atitudes de autoajuda
 » O dia de finados
 » Mãe é aquela que cria
 » A internet não esquece
 » Capelinha da Vila Leão
 » Benzedeiros e benzeduras
 » Casa de mãe
 » Uma luz no fim do túnel
 » Um Diário para Sophia
 » Um brinde à ociosidade
 » A carteira perdida
 » A fonte luminosa
 » Brincando pelos tempos
 » Lembranças de Natal
 » O poço artesiano do hospital
 » A lata de botões
 » O Tatu embalsamado
 » A gaveta da cômoda
 » As artesãs da minha vida
 » O antigo Correio de Caieiras
 » Medo do escuro
 » Reencontro com o passado
 » O Baú da vida
 » Um Circo em Caieiras
 » reflexões de final de ano
 » Parque de diversões em Caieiras
 » A Loja da Fonsina
 » Pirulitos de Guarda Chuva
 » O caminhão pau de arara
 » Duelo entre patrões e empregados
 » A Mestra com carinho
 » Os bons tempos da Pharmacia
 » O sorveteiro da Vila Leão
 » Jovens Tardes de Domingo, o "Clubinho"
 » A internet à beira do caos
 » Mulheres maravilhosas
 » Natal numa casa da Rua Guadalajara
 » Brincadeiras na rua 4
 » Viagem de trem, sofrimento e saudades
 » A vida é uma novela
 » Essa tal felicidade
 » Amizades verdadeiras
 » Teorias sobre o amor verdadeiro
 » O dia 7 de Setembro
 » De bem com a vida
 » O Colégio Walter Weiszflog
 » O Armazém da Fábrica
 » A verdadeira face da aposentadoria
 » O preço da beleza
 » Os filhos na planilha financeira
 » A Segunda dança no Salão Nobre .
 » O Jardim de Infância em 1963.
 » Os Jardins da Vila Leão .
 » A ÁRVORE QUE CHORA.
 » A Rua da Bomba .
 » O quartinho mal assombrado do Grupo Escolar .
 » Semana Santa na Vila Leão .
 » A cadeira com presentes !!!
 » O campinho da Vila Leão .
 » O Salão Nobre da Fábrica .
 » Tributo a uma grande mulher .
 » A cesta de Natal .
 » Almoço de domingo na Vila Leão .
 » O vendedor de sandálias havaianas .
 » Um carnaval no Salão Nobre .
 » A primeira dança no Salão Nobre .
 » O conserto da televisão .
 » Obras de arte em telas de arame.
 » Banho de Bacia na Vila Leão.
 » Os cinemas da Lapa
 » Dia dos namorados
 » Corpus Christi
 » Xuxa e sua volta ao Trono
 » As festas de Santo Antonio
 » O Banheiro da Estação
 » Veteranos da Emed
 » O amor no novo milênio.
 » Terceira idade, os exageros.
 » O luxo da reciclagem.
 » As festas de fim de ano .
 » Alcoolismo e juventude.
 » Sua majestade o celular .
 » O Brasil na chuva e na lama .
 » A sacolagem no meio ambiente .
 » A hipocrisia ao alcance de todos.
 » O Universo Pet.
 » Indignação.
 » A Rocinha em cena .
 » A generosidade no Natal.
 » O trânsito nosso de cada dia .
 » Ano novo , tudo velho .
 » A dificil trajetória de um pai .
 » Triste Realidade.
 » Os ídolos em nossas vidas.
 » Bulling em dois tempos.
 » A Morte santifica .
 » Abençoados os vizinhos de ontem !!!
 » A Semana Santa na Vila Leão
 » As famílias e a TV
 » Nas rodas da Bicicleta
 » Fazendo as pazes com o passado

Voltar