O bom desempenho do mercado de ações nos últimos anos trouxe de volta, para muitas empresas, a possibilidade de abrir seu capital em Bolsa. E com novas ofertas de ações, alguns termos, a grande maioria dos quais técnicos ou específicos a este mercado, voltaram a ser usados de forma mais intensa. Um deles é o bookbuilding.
O bookbuilding, em poucas palavras, pode ser descrito como o processo no qual o coordenador da oferta avalia, junto aos investidores, a demanda pela operação. O nome vem do inglês e representa bem o processo, que é efetivamente montar o livro de ofertas da transação.
Exemplo prático
Um exemplo simples pode ilustrar o processo. Baseado na avaliação da empresa e das condições de mercado, o coordenador da oferta determina um intervalo inicial para o preço de lançamento entre R$ 10 e R$ 15 por ação. Resta agora saber se os investidores estão interessados e, mais importante, a qual preço.
Através de consultas a investidores institucionais, como gestores de recursos, fundos de pensão, seguradoras e outros, o coordenador pode obter esta informação. Vamos considerar como exemplo uma oferta de R$ 500 milhões, e uma consulta a 100 investidores institucionais.
Cada investidor indica, formal ou informalmente, quantas ações ele quer comprar e qual o preço que está disposto a pagar. O coordenador tabula estas informações por ordem crescente de preço, de forma a obter qual seria a quantidade acumulada a determinado preço. Por exemplo, se somente dez investidores colocaram ordens de 2 milhões de ações cada a R$ 15,00 por ação, este não deve ser o preço da oferta.
Isso ocorre pois o total de ordens seria de 20 milhões de ações, com um total de R$ 300 milhões - que fica abaixo dos R$ 500 milhões que estão sendo ofertados. A solução é baixar o preço, de forma que outros investidores participem da oferta. Assim, o coordenador analisa o livro de oferta e atinge o patamar de preço pelo qual R$ 500 milhões possam ser vendidos confortavelmente.
Etapas do processo
O processo passa por diversas etapas, começando pela definição de quais investidores institucionais serão contatados e do intervalo de preço da oferta. Em geral, esta fase é seguida de um roadshow, que consiste em uma série de apresentações para potenciais investidores. O passo seguinte é obter as indicações de preço e quantidade dos investidores.
Com a aproximação da data de precificação e início das negociações, o coordenador busca obter o número exato de ações que cada investidor institucional quer. Obtendo estas informações, o coordenador e a companhia, geralmente um dia antes do início das negociações, decidem qual será o preço por ação da oferta.
Procedimento vale para renda fixa e variável
Este procedimento é utilizado tanto para ofertas de ações como também para emissões de títulos de renda fixa, como debêntures, Eurobonds, bônus globais e outros. O ponto em comum é sempre o mesmo: identificar a que preço a quantidade de títulos oferecidos pode ser vendida de forma que a operação seja bem sucedida.
O processo, que antigamente era manual, com listas de papel no qual o interesse dos investidores era anotado a lápis, foi se sofisticando, passando pelo uso de planilhas eletrônicas e chegando a sistemas online, o que facilita o processo para todas as partes envolvidas.
No Brasil, por exemplo, a Bovespa disponibiliza e-Bookbuilding, ferramenta para a apuração de intenções de compra de ativos via Internet. Este sistema permite a realização de processos de bookbuilding de colocações primárias ou secundárias de ações, debêntures, notas promissórias e quotas de fundos.