A "drenagem de cérebros" - o fluxo de mão de obra intelectual e especializada de países pobres para ricos - tem sido tão constante nos tempos modernos que o motorista de táxi nigeriano formado em medicina no seu país é um elemento tão característico de Nova York quanto uma atriz figurante na Broadway ou um banqueiro de Wall Street, Engenheiros formados do Brasil à China e à Polônia há muito partiram para países mais desenvolvidos atrás de melhores oportunidades, às vezes em seus próprios campos, com frequência atrás de volantes de carros ou na cozinha de restaurantes ou lanchonetes.
Aliás, com o tempo, cerca de 75% dos migrantes internacionais mudaram para um país com nível de desenvolvimento humano superior ao de seu país de origem, segundo o Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas.
Agora, porém, a maré está virando; imigrantes já não veem os países desenvolvidos como um lugar melhor. Essa reviravolta - uma "drenagem de cérebros" para países em desenvolvimento - envolve pessoas como o queniano Sitati Kituyi, que decidiu trocar um posto privilegiado numa consultoria em Londres por uma empresa iniciante de tecnologia na África. Ou Han Jie, um empresário atraído dos Estados Unidos para sua terra, a China, por incentivos do governo para montar uma fábrica de equipamentos médicos. Ou Bernardo Fontoura, um jovem português no ramo das comunicações que se mudou para o Rio para fazer parte do que chama de "era dourada" do Brasil em razão da Copa de 2014 e da Olimpíada de 2016.
A crise que começou em 2008 testou o senso de estabilidade da classe média americana e do direito europeu ao bem-estar social. Ela também fez muitos questionarem se o mundo desenvolvido ainda é a única terra de oportunidades para onde compensa migrar.
As economias emergentes não só estão se saindo melhor do que a maioria do mundo desenvolvido na recessão atual. Elas também continuam a crescer, atraindo seus expatriados e, em alguns casos, seduzindo até novos cidadãos altamente especializados dos Estados Unidos e Europa.
É a "democratização do talento", diz Demetrios Papadementriou, presidente da organização sem fins lucrativos Migration Policy Institute em Washington. "Antes, todos iam para quatro ou cinco países de fala inglesa (e todas as outras nações) recebiam o talento de terceira linha. Hoje o conhecimento não é mais monopolizado em algum lugar." A China tem a maior diáspora do mundo, mas depois que ela se firmou como potência mundial - junto com Brasil, Rússia e Índia no grupo chamado de Bric - o governo tem redobrado esforços para atrair milhões de cidadãos que deixaram o país nos últimos 30 anos.
O número de pessoas que estão voltando a seus países a cada ano em vez de permanecer em seus países anfitriões cresceu mais de dez vezes desde o inicio do século. O Brasil também está atraindo seus expatriados e, com eles, muitos europeus, uma importante inversão entre a Europa e suas "antigas colônias" da América Latina, como Argentina, Brasil e México. O número de estrangeiros vivendo legalmente no Brasil cresceu mais de 50% entre 2010 e abril de 2012, muitos deles de Portugal, fazendo dele um país de imigração, depois de anos de emigração sistemática.
"O que estamos vendo parece ser uma migração de europeus especializados para países em desenvolvimento, como os Brics", diz Ryszard Cholewinski, especialista em política migratória na Organização Internacional do Trabalho. "Em razão da crise na Europa", diz ele, especialmente para jovens do sul da Europa, "a oportunidade para eles está agora no mundo em desenvolvimento."
Mesmo países mais pobres da União Europeia, que lidaram com uma súbita drenagem para países mais desenvolvidos quando ingressaram na União, esperam que a crise possa trazer de volta os migrantes perdidos. Em 2004, com a entrada da Polônia na União Europeia, estudantes de pós-graduação de Varsóvia e Cracóvia e das regiões rurais entre as duas acorreram para Irlanda e Inglaterra, onde muitas vezes tiveram de se contentar com o trabalho como encanadores ou garçons. Agora, um fluxo constante está voltando para aproveitar o potencial da Polônia pós-comunista, e há uma população "circulatória" de migrantes móveis de classe média entrando e saindo de países europeus.
Tornar-se um país receptor de cérebros implica novas responsabilidades que costumam causar problemas, como impedir abusos de direitos humanos de trabalhadores ilegais ou desencorajar o novo discurso xenofóbico. O governo brasileiro estima que metade dos 4 milhões de cidadãos que viviam no exterior em 2005 voltou para casa. Muitos deles são trabalhadores não especializados retraídos pelas regras mais duras de imigração e pelo mercado de trabalho estagnado nos Estados Unidos. E a eles se juntaram dezenas de milhares de trabalhadores bolivianos e paraguaios com baixa especialização atraídos pelo crescimento do Brasil.
Mas os tradicionais exportadores de capital humano têm menos problemas que vantagens como destinos pois os fluxos criam um efeito multiplicador positivo, diz Vivek Wadhwa, autor do livro The Immigrant Exodus (O Êxodo do Imigrante).
"Quando a pessoa vivia num país da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e via como as coisas funcionam ali, eu creio que ela fica menos tolerante com corrupção, coisas que não funcionam, ineficiência, pessoas fazendo corpo mole", diz Georges Lemaitre, um especialista em migração da força de trabalho da OCDE. "Você quer ver seu país com mais serviços e com a eficiência a que está acostumado." Esses benefícios, ele acrescenta, poderão se tornar um padrão global nos próximos anos, tanto da nova migração como da migração inversa. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK