O índice de desmatamento da Amazônia atingiu sua pior marca desde 2008, segundo dados desta semana do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), registrando um crescimento de 9,5% entre agosto de 2019 e julho de 2020. Além disso, esta semana houve a decisão da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) de, a partir de dezembro, adotar bandeira vermelha patamar 2 para a energia elétrica por conta do baixo nível de reservatórios de usinas hidroelétricas importantes.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, estabelece uma relação entre os eventos citados e dá um prognóstico para o próximo ano. Ele explica que os problemas de abastecimento estão diretamente ligados à questão ambiental, pois são ventos chamados “rios voadores” que trazem a umidade das regiões de floresta para a região central do País. Com o desmatamento, esse fluxo é interrompido, levando à redução do volume de chuvas na área e exigindo o maior uso de termelétricas, cuja energia é mais cara.
Outro fator que preocupa o especialista é que os níveis dos reservatórios que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo estão mais baixos, inclusive o do Sistema Cantareira, que está em 31,7% – nível comparável a dezembro de 2013, que antecedeu a crise hídrica de 2014-2016. Ele conta que esse sistema não se recuperou depois da crise hídrica: “Antes, sua capacidade chegava a 80%. Hoje, mesmo contando com uma fonte adicional de água e um sistema comedido de uso, ele não consegue ultrapassar os 60%”.
Isso, somado a estiagens prolongadas ocorridas no Sul do País, afeta as represas do Estado de São Paulo, resultando em perspectivas não muito otimistas para o próximo ano. “É preciso considerar que já lidamos com as consequências e que os efeitos do desmatamento da Amazônia não vão cessar. Provavelmente já ultrapassamos o ponto de equilíbrio da floresta, a partir do qual a floresta não consegue mais se recuperar da degradação sofrida. Com isso, continuaremos observando a redução dos níveis dos reservatórios e continuaremos tendo o predomínio da bandeira vermelha”, indica o professor.
Além disso, a região Sudeste sofrerá com os impactos do fenômeno La Niña pelo menos até a metade de 2021 e também a Fase Neutra, que vem em seguida, que prejudicam significativamente a recarga dos mananciais que abastecem São Paulo. Portanto, Côrtes prevê que problemas de abastecimento no próximo ano são possíveis.