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José Mané vai ao banco...

O José Mané não entende nada de economia. Mas ficou eufórico quando soube que o Copom, o Comitê de Política Monetária, reduziu a taxa bancária de juros da economia em 2,5 pontos percentuais, de 24,5% para 22% ao ano. Fez as suas contas, descontou da taxa Selic a inflação prevista para o ano, que é de 6,5% e chegou a uma taxa de juros “real” de 15,5% ao ano.

“Perfeito!”, entusiasmou-se ele. “Esse juro dá para pagar!”. Foi correndo ao banco onde tinha conta e pediu um empréstimo de R$ 100 mil para sua pequena empresa.

O gerente, sempre muito gentil (como aqueles da propaganda na TV), examinou o cadastro dele, aprovou-o e lhe apresentou a conta.

“Doutor Mané, o seu crédito está aprovado! O senhor retira hoje os R$ 100 e daqui a um ano terá de nos pagar apenas R$ 245 mil!”.

“Ei! Espere aí, Sr. Lucrécio! Eu não entendo nada de economia, mas, nas minhas contas, 100 mil mais 22% dá 122 mil! Houve algum engano!”

“Nenhum engano, doutor Mané. O senhor não achou que ia pegar o empréstimo pela taxa básica, não é? Existem impostos, taxa de administração, ‘spread’, o lucro do banco e uma porção de coisas mais...”

“Mesmo assim. Apesar de não entender nada de economia, eu estou vendo que, em vez de 22% o senhor está me cobrando 145%. Que cálculo foi feito para dar essa diferença toda?”

“Simples, 22%, a tal da taxa Selic, são os juros que o Tesouro Nacional paga pelos seus títulos. Como os bancos não trabalham com dinheiro próprio – eles tomam numa ponta para emprestar na outra –, a taxa Selic mais alguns pontos percentuais, ao todo uns 30%, é custo do dinheiro para o banco. Para emprestar aos clientes é claro que a taxa tem de ser maior”.

“Meu Deus do céu, quanto é isso?!”

“Começamos em 30%, está entendido? O senhor, de início, já está devendo R$ 130 mil. Aí vem a taxa de risco, de mais uns 20 pontos percentuais. Chegamos a 50%”.

“Mas que taxa de risco é essa? O senhor sabe muito bem que eu sou um tomador de empréstimo de absoluta confiança! É certeza que vou pagar!”

“O senhor paga, mas acontece que, do total em empréstimos que o banco faz, uma parte dá em calote. Os bons, infelizmente, acabam pagando pelos maus, de forma que a gente cobra 20 pontos porcentuais a mais para cobrir os inadimplentes. Até aqui, o seu débito já está em R$ 150 mil. Depois tem a taxa de administração do banco...”

“Taxa de administração?”, questiona, impaciente, o José Mané.

“É claro”, responde o gerente Lucrécio, com naturalidade. “Um banco custa dinheiro para funcionar. Nós temos que pagar aos funcionários, o aluguel, luz, etc. Isso tem de ser cobrado de alguém. No caso, é do senhor, que vem aqui pedir empréstimo. Ponha mais 20 pontos porcentuais aí na sua dívida. Já estamos em R$ 170 mil. Agora vem a taxa de lucro do banco. Some mais 35 pontos percentuais”.

“Tudo isso?! Vocês lucram 35% em cada operação de crédito?”

“Aqui não é a Santa Casa de Misericórdia. Quem comanda o negócio é a lei da oferta e da procura, ou seja, o mercado. Como o governo é o maior tomador da praça, ele toma oito décimos de todo o dinheiro disponível para empréstimos, sobra muito pouco para emprestar a gente como o senhor. Se tem muita gente querendo empréstimo e pouca gente oferecendo, é claro que a margem de lucro sobe”.

“Isso é um absurdo! Deviam cobrar mais Imposto de Renda sobre o lucro dos bancos!”

“Eles já cobram. Só que o custo disso acaba sendo repassado para os tomadores de empréstimos”.

“Deus Pai, a minha dívida de R$ 170 mil já pulou para R$ 205 mil! Aonde isso vai parar?”

“Agora vem a sua cota de patriotismo. Entre taxas, contribuições e impostos sobre operações financeiras e creditícias, o senhor vai pagar mais uns 40 pontos porcentuais. Aí chegamos ao valor final de seu débito, que é de R$ 245 mil”.

“Sr. Lucrécio, deixe ver se eu entendi bem. Eu vim até aqui para pedir um empréstimo de R$ 100 mil. Nós fizemos um monte de contas e agora o senhor quer me convencer de que eu lhe devo, daqui a um ano. R$ 245 mil?! Ou seja, uma taxa de juros de 145%!”

“Exatamente, meu caro amigo! E o senhor tem sorte, porque essa taxa nós só damos aos nossos clientes preferenciais”.

“Mas isso é um roubo, um verdadeiro absurdo!”

“Está vendo, Dr. Mané? O senhor já está começando a entender de economia!”

João Mellão / O Estado de São Paulo

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