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11/11/2013
Um fracasso em dez motivos

1. Onde foi parar? O governo Dilma Rousseff transferiu centenas de bilhões de reais para empresas. Fez isso de modo direto: baixou impostos e subsidiou empréstimos (por meio de bancos públicos, emprestou dinheiro a preço "abaixo do custo"). Fez isso de modo indireto: protegeu ainda mais empresas brasileiras da competição externa.

2. A dinheirama não foi parar no investimento. Ou, pelo menos, não teve o dom de incrementá-lo. A intenção declarada do governo Dilma era incentivar empresas a investir mais em novas instalações produtivas, novos negócios. Não rolou. O investimento como proporção do PIB caiu do primeiro trimestre do governo Dilma (2011) até o segundo trimestre deste ano de 2013, quando houve recuperação miudinha.

3. Onde foi parar tanto incentivo? Manutenção de margem de lucro de empresas, ameaçada pela concorrência estrangeira de produtos mais baratos, favorecida ainda pelo câmbio (dólar barato)? Foi repassado para preços de produtos? Bancou o custo do represamento de trabalhadores (evitar demissões), mantidos mesmo com capacidade ociosa na produção? Note-se que quase todas essas hipóteses são boazinhas.

4. Por falar em câmbio, note-se de passagem que o "preço do dólar" de fato ainda esteve barato nos anos do governo Dilma, o que em tese prejudica empresas nacionais (nem todas), acossadas pela concorrência externa. Mas a taxa de câmbio efetiva real melhora desde a metade de 2011.

5. A parte do dinheiro federal empregada em investimentos "em obras" ficou praticamente estagnada desde o início do governo Dilma (na conta que compara tais dinheiros com o tamanho da economia, do PIB). O governo até que tentou melhorar, mas deu de cara com a própria burocracia, com ministros incompetentes (nomeados porém por Dilma), com delongas derivadas dos escândalos do primeiro ano de governo (aquele da "faxina ética") etc.

6. Por que o governo fechou a porta na própria cara, em matéria de investimento? Por que não consegue gastar nem o que se propõe? Um motivo é a barafunda de instituições de licenciamento, controle e fiscalização, as quais não se falam, têm responsabilidades sobrepostas, normas confusas e outras maluquices, como leis draconianas, que no entanto não impedem corrupções.

7. O que o governo Dilma fez a respeito desse manicômio legal-institucional? Nada, ou quase isso.

8. Por que Dilma não fez nada, ou quase isso? Só perguntando aos botões da presidente, como ela mesma gosta de dizer.

9. Hipóteses. Dilma não queria lidar com o Congresso, mandar-lhe leis, reformas, nada disso. Porque não gosta de lidar com o Congresso. Porque talvez achasse que, com alguns safanões e "vontade política" (dela), a coisa andasse. Porque não conhecia o tamanho do problema, apesar de estar no governo federal, lidando justamente com isso, desde 2003. Os botões da blusa de Dilma têm muito para explicar.

10. Dilma, enfim, não fez reforma quase alguma. Achava que o país estava "pronto para crescer", bastando colocar mais lenha para esquentar a caldeira e acelerar a Maria-fumaça (mais incentivo e gasto público). Mas o trem não andou. Apenas ficou mais quente, desperdiçando energia: mais inflação, mais deficit externo.

 


Vinicius Torres Freire - Folha de S.Paulo

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