A desoneração do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da linha branca e do setor automotivo termina no próximo dia 31 e há dúvidas se haverá nova prorrogação, pois o governo está preocupado com a queda da receita de tributos. Em junho, a arrecadação federal apresentou baixa real de 6,55%, ante mesmo mês do ano passado. É o primeiro recuo de 2012, que deverá se repetir em julho, pois em igual mês do ano passado houve uma receita extra de
R$ 7,45 bilhão, decorrente de antecipações do Refis da Crise e do pagamento de um débito em atraso da Vale, relacionado à Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).
Com uma economia morna, que aparentemente não tem reagido aos cortes de impostos, somada à queda na arrecadação, o governo sinalizou rever sua política de desonerações para preservar a meta de superávit fiscal primário do setor público em 2012 e 2013. Para economistas ouvidos pelo Diário do Comércio , porém, o mais provável é que o Planalto prorrogue os benefícios para a linha branca e veículos, que contam com essa medida para manterem suas vendas.
"Se pôr fim às desonerações, a economia brasileira corre o risco de entrar em recessão. Acho que o governo não tem outro caminho", diz o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emilio Alfieri. Ele explica que o governo optou por deixar de lado a meta de inflação e usar outros instrumentos para evitar uma queda maior do Produto Interno Bruto (PIB). Alfieri lembra que nesta sexta-feira o Banco Central vai divulgar seu índice de atividade econômica (IBC-BR) e que o governo deverá levar o resultado na sua decisão de prorrogar ou não os benefícios fiscais. "Se continuar fraco, é quase certo que vai manter as desonerações", arrisca.
Alfieri aponta que há vários indicadores mostrando uma certa estagnação da atividade econômica. As vendas de papelão ondulado, por exemplo, cresceram 0,1% em julho em relação a julho de 2011. O fluxo de veículos, que mede o transporte de carga, em igual período, subiu 0,7%. E as vendas medidas pelo Serviço Central de Proteção ao Crédito (SCPC) aumentaram 2% em julho. "Tradicionalmente, as vendas do varejo ficam 2% acima do PIB, o que leva a crer que o resultado do segundo trimestre será fraco", analisa. Embora os números indiquem estagnação, o economista ressalva que, diferentemente da crise ocorrida em 2009, a inadimplência está sob controle, assim como o nível de emprego. "Mantidas as desonerações, a economia deverá reagir até o final do ano", diz.
Armas – O economista Amir Khair afirma que as desonerações foram as armas escolhidas pelo governo para tentar reanimar a indústria. Além de reduzir a alíquota do IPI para alguns setores, o governo promoveu a desoneração parcial da folha de salários de certos segmentos econômicos. "Elas são úteis, mas não vão resolver os principais problemas do País", analisa. Em vez de só estimular, o economista defende "a retirada do desestímulo". "A economia trabalha com o freio puxado porque os juros e os impostos sobre o consumo são muito altos", afirma.
Para Khair, é difícil avaliar os reais impactos das desonerações na reação da indústria. "Mas é muito provável que estaria muito fraca sem os benefícios fiscais", analisa. Na sua opinião, há um potencial de consumo no mercado interno que poderia ser mais explorado por meio da queda da taxa de juros dos tomadores, redução da Selic, recuo das tarifas bancárias e tabelamento das mesmas. "Com isso, haveria uma ampliação das operações de crédito, com impactos positivos sobre o consumo", conclui o economista.
Mercado vê PIB ainda menor
O mercado voltou a reduzir a estimativa para o Produto Interno Bruto (PIB) e a elevar a da inflação neste ano, segundo divulgação de ontem do boletim Focus, do Banco Central (BC).
A expectativa para o crescimento do PIB (a soma de tudo que o país produz) neste ano foi reduzida pela segunda vez seguida, ao baixar de 1,85%, na semana passada, para 1,81%, ontem. Para o próximo ano, a previsão ficou estável em 4%. A taxa projetada pelo governo é de 3%.
A projeção deste ano para inflação oficial (medida pelo IPCA, Índice de Preços ao Consumidor Amplo) subiu pela quinta semana, passando de 5%, para 5,11%. Para 2013, se manteve, pela sétima semana, em 5,5%.