18/05/2017
Um caieirense antigo

Nós nascemos antes da televisão, antes da penicilina, da vacina Sabin, da comida congelada, da fralda descartável, do xerox, do plástico, das lentes de contato e da pílula.

Nós nascemos antes do radar, dos cartões de crédito, da fissão do átomo, do raio laser e das esferográficas. Antes das máquinas de lavar pratos, secadoras de roupa, cobertores elétricos, ar condicionado e antes do homem ir a lua.

Nós casávamos primeiro e só depois morávamos juntos. As filhas eram regiamente vigiadas pelos pais, avós em qualquer atividade social que participassem. O casamento era até que “a morte o separe”.  Estranhamos isso, não?

Nós nascemos antes do direito dos gays, da mulher que trabalha o dia inteiro fora de casa, da produção independente dos filhos, dos berçários, das terapias de grupos do  Spa. O marido era o provedor do lar. A esposa a ferrenha “leoa” do lar evitando qualquer desvio das crias e esporadicamente, a dedicada professora normalista.

Nós nunca tínhamos ouvido falar em fita cassete, videogames computadores, danoninho e rapazes de brinco.

Nos nossos dias fumava-se cigarros. Erva era para fazer chá, coca era refrigerante, "crack" era jogador de futebol, pó era sujeira, lança perfume era um divertimento saudável em nossos carnavais, com efeito apenas congelante adotado por festejos carnavalescos em todo Brasil desde 1904.

Embalo era para criança dormir, lambada era chicotada, fio dental era para os dentes, e malhar era coisa de ferreiro ou a vingança que se fazia do "Judas".

Nós nos contentávamos com o que tínhamos. Na hora das refeições agradecíamos o céu pelo que degustávamos. Pedíamos benção ao nos despedir de nossos pais. Éramos em irmandade numerosa e muitas vezes corríamos junto ao arado porque não tínhamos o desejado trator. Esse comportamento fortalecia a união e a fraternidade entre irmãos.

Nós fomos a última geração tão boba e a ponto de pensar que se precisava de um marido para ter um bebê.

Atualmente os casais se separam com muita facilidade com os mais variados motivos. O novo relacionamento acontece, e pai e mãe trazem filhos de outros matrimônios, para a compreensão ou até desespero do “bolso” destes, os filhos se comunicam quando a parte de uns são beneficiados, automaticamente os outros o serão em seus desejos.

Por isso estamos confusos e há tanta loucura entre as gerações. Mas nós vivíamos, vivíamos e continuamos apesar das invenções.

Naturalmente que tantas inovações e mudanças se atropelando não poderiam deixar de causar um choque de gerações.

Foi o que pude verificar quando em tempos idos, após a aula na universidade, uma aluna perguntou-me: Mestre quantos anos o senhor está casado?

Respondi:  estou casado há mais de 30 anos com a mesma mulher e nunca deixei de amá-la.

Admirada, disse-me: Caramba!  o senhor deve ser de outro planeta.

Enfim, os tempos são outros...

Anisio Menuchi



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