Em todos os lugares a prosperidade demanda a presença de água, não tínhamos um rio mas riacho o suficiente para apanhar pequenos peixes. Havia também um diminuto campo de futebol para nossas peladas entre bairros.
Bonsucesso de minha infância tinha um armazém que era gerido por Leonildo Rosolem, (não recordo o nome de sua esposa, porém os filhos que conheci: Maria Rosa, Ari) responsável por nossos suprimentos de primeira necessidade (café, açúcar, óleo, arroz, feijão, sal etc, etc, etc). Demais necessidade se buscava em outro bairro, não se dispensava o uso da terra na cria de animais e plantação de hortaliças e leguminosas para sustento familiar.
Defronte ao armazém um enorme reservatório de água em plano elevado onde transeuntes matavam a sede, enchia o cantil ou outro tipo de vasilhame para seguir sua jornada.
A Via Anhanguera totalmente asfaltada em que os diretores da Cia Melhoramentos de São Paulo após o retorno da Capital do Estado transitavam pela guarita, pela praticidade e comodidade em rapidamente se situar dentro dos limites da Cia Melhoramentos. Sei disso porque o responsável meu saudoso pai (Richeto Menuchi) dentre outros, controlavam em anotações regulares referendando aos seus superiores. Julgo que outro extremo (antiga Estrada Velha de Campinas) debalde era o desejo para o ingresso ao território da Melhoramentos por esta via.
Na década de 50 ocorreu um imenso incêndio no reflorestamento de eucaliptos, uma plantação importantíssima na fabricação de celulose em quem explorava a Melhoramentos. Incêndio de porte expressivo em alguns alqueires, porém debelado por amorosa dedicação de seus funcionários.
A família que enumerei na postagem da “Via Férrea Bonsucesso”, Guerino, Marieta, Atiê e Ademar torna lembrança cristalina que em épocas momescas ela com seus acordes abrilhantavam nosso singelo carnaval de rua.
Recordo com muita nitidez nossa alegria ao fantasiarmos nosso mais nobre meio de “transporte”, a bicicleta, com serpentina e outros elementos alusivos a data. Uma festa, uma diversão inigualável.
E lá seguíamos o curso no compasso de: Ó Abre Alas, Mamãe Eu Quero, Teu Cabelo Não Nega, Cachaça Não é Água Não, Cabeleira do Zezé e tantas outras que já não me recordo.
Naquele período já existiam confortáveis salões do Brasil FC, União Recreativo Melhoramentos São Paulo e Clube Recreativo Melhoramentos.
Acontece que dependíamos do indispensável pau-de-arara que dispúnhamos criteriosamente em limitados horários diuturnos para usufruir dos festejos de momo. Ou então ser utilizado uma bicicleta, um animal de tração ou percorrer a pé sonhando com a amada aproveitando o trajeto para dissuadir de algum inconveniente em seu relacionamento amoroso: O pai achava que ganhava pouco, um despreparado para a sua filha querida? A mãe julgava que era um “pé rapado” e morava longe; Mas ela me ama! Fujo ou não fujo com ela? Mas tenho pouco dinheiro e não vai dar...Acho melhor dar um tempo...
Não tínhamos energia elétrica, e percorrer um pouco mais de dezenas de quilômetros para a festividade dos Alecrim, Pierrot e Colombina, exigia um bom suporte físico o que não importava porque uma nova paixão, um novo amor não correspondido se aflorava. E o lança- perfume? Lançando um perfumoso e gelado éter, vendidos em tubos de metal ou de vidro: Supimpa! Nada de sê-lo decretado um insolvente de prejuízo a saúde. Entretanto o que não podia ser esquecido que o novo dia impunha um exaustivo serviço, conheci muitos cujo ganha-pão tinha que trabalhar em pedreiras e quebrá-las exigia um enorme suador além de incontáveis calos em mãos. Mas tudo valia a pena usufruir dos velhos carnavais.
Saudoso tempo que poderíamos perguntar: O que falar de uma época sem qualquer temor em caminhar por atalhos ou ruas não pavimentadas? Não tínhamos qualquer batimento cardíaco alterado, não andávamos com os olhos bem arregalados. Não se falava de homicídio ou latrocínio. Nossas casas não tinham grades, trancas – ficavam com janelas e portas abertas, os vizinhos se entreolhavam e se abraçavam. Compartilhavam seus alimentos. As desavenças eram diminutas.
Bem hoje, as festividade dos Alecrim, Pierrot e Colombina, verifica-se um excesso de narcisismo, de burgueses se despindo para ser focalizado por mídia. A boa notícia é vista com o crescimento de blocos e que o carnaval seja realmente dos foliões.
Bonsucesso sofreu a ação do progresso que é um movimento para frente para melhor ou pior. A concepção de cada um.
Para mim, Bonsucesso foi este lugar com o passar o tempo a possibilidade de apagar a lembrança de um rosto, mas nunca a lembrança de pessoas que fizeram de pequenos instantes os grandes momentos.
ANÍZIO MENUCHI
N. do A Pela importância que foi Bonsucesso o primeiro bairro de Caieiras, é possível que os contemporâneos, equevos tenham outros conhecimentos, assuntos que possam enriquecer o tema. Sugiro que o façam para a mantença de uma memória viva e acesso a quem nos sucede.
CAIEIRAS - BONSUCESSO FESTA DE SÃO PEDRO 1941
Quem disse que o primeiro Bairro Bonsucesso não era festeiro? O Brasil até o presente momento é o maior país católico do mundo e, não podia de deixar já em 1941 as festividades religiosas.
Há relatos que moradores de Monjolinho vinham em trem com dezenas de pessoas da Companhia Melhoramentos até o Bairro Bonsucesso para em volta de fogueiras comemorar o “Dia de São Pedro”
Pós orações, comandada por Padre Aquiles havia pratos em comidas típicas do período, acompanhadas por bebidas. O bom da festa não deixava de existir músicas com sanfona, viola, violão, trombone, pandeiro e demais instrumentos para brilho da festa que se estendia até o amanhecer.
O esteio financeiro dos residentes em Bonsucesso era a pedreira na qual se empregava a maioria deles.
O que falar desta efeméride? Gente simples, ordeira, consciente de suas obrigações recíprocas. Gente cuja remuneração era de um serviço braçal, bruto que exigia um esforço sobre-humano na extração de pedras à alimentação dos fornos.
ANÍZIO MENUCHI
Foto disponível : http://www.caieiraspress.com.br/fotos/index.php?id=2