O salão de festa do Bairro Fábrica, chamado de Nobrinho, é lembrado ao olhar saudosamente este convite de 02 de maio de 1.970. Desenrolava em minha mente o desejo que rapidamente chegasse o dia do grande baile. O salão era o melhor da redondeza, o piso em tacos de madeira era perfeito para o deslize e marcação dos passos. Certamente como indicava o convite haveria apuros em nossa vestimenta, teríamos que pensar em novas compras: quem sabe um novo terno no alfaiate já conhecido? Nova camisa; gravata (não podia entrar sem ela); sapato; abrir um novo crediário? O apuro à vestimenta era imprescindível.
O sonho de um romance com a pretendida estava em curso. Quem sabe uma passada no dentista para corrigir eventual defeito na arcada dentária? Tudo estava em jogo, pois o momento de uma declaração apaixonada poderia ocorrer e o melhor deveria ser: estar preparado.
Por experiência própria, ao apaixonar-se, esta poderá causar estragos no corpo. O coração acelera, a barriga embrulha, a sensação de entrar numa montanha russa emocional sentindo-se delirantemente feliz em um minuto, e ansioso e desesperado no próximo. Como apregoava Voltaire O amor é de todas as paixões a mais forte, pois ataca simultaneamente a cabeça, o coração e os sentidos.
Ao adentrar ao salão, no lado esquerdo havia um bar com as mais diversas bebidas. A preferida delas era a cuba libre (rum com coca cola e rodelas de limão), uma ou outra com sabor de hortelã. Não se podia exagerar o hálito - ao efetuar uma declaração apaixonada poder-se-ia exalar um odor desagradável inegavelmente seria obstáculo para a paquera bem sucedida.
As mesas bem acompanhadas estavam as jovens casaidoras bem vigiadas, com os pais e até com os avós sob o rigor dos olhares, obstaculizando que um desalmado cavalheiro ultrapassasse os bons costumes.
A orquestra entrava em cena e para os casais enamorados os pensamentos se aprofundavam como: “ainda bem que tocou, essa música suave, eu posso dançar com você...eu tenho você nos meus braços, e posso sentir seu corpo macio, seu peito desse jeito, apertado no meu peito”. (parte da música suave).
Após a contradança, ainda muitas vezes trêmulo, com batimentos cardíaco acelerado, acompanhávamos de forma cavalheiresca a dama aos seus assentos.
Conheço alguns namoros iniciados nestes muitos bailes que frequentei, cujos colóquios amorosos ou idílio redundaram em exemplar casais, constituindo-se em compromisso formal e promovendo um maior crescimento populacional de nossa Cidade.
De volta, ao olhar novamente o convite, fica a gratidão de um fraternal grupo que não media esforços em proporcionar inesquecíveis encontros dançantes (Flávio de Jorge, Hugo Pereira da Silva, Arylton Chrispim, Alair Lucietto, Norimal Constantini e Neuza Constantini).
ANÍZIO MENUCHI
Fotos: acesse o link - página 11: http://www.caieiraspress.com.br/fotos/index.php?id=2