Os minutos não passavam, horas demoravam, o dia não chegava tudo isso aumentava o batimento cardíaco na expectativa da viagem. Depois de muita angústia o dia chegou. Minha saudosa mãe passou impecavelmente a minha única roupa de passeio e eu estava todo pomposo para o deslocamento, morávamos em local distante sem energia elétrica e muitas dificuldades para obter um melhor padrão de vida. Papai (meu saudoso)com indefectíveis chapéu e gravata, mamãe e meus irmãos com as melhores vestimentas que dispunham. Embarcamos no “pau-de-arara”.
Este veículo foi contratado por pessoas vizinhos de Bonsucesso, Calcárea e imediações, todos conhecidos entre si, pois eram na totalidade empregados da Cia Melhoramentos de São Paulo. Embarcados traziam o farnel para viagem, os recursos para etapa era longa, prover-se não tão fácil, e custoso. Está em minha memória o ronco do velho caminhão superado apenas pelos terços, cânticos das pessoas na carroceria não importando o tranco e solavanco, e enormes nuvens de poeira em estradas precárias.
O que levava estas pessoas a percorrer mais de quatro centenas de quilômetros à Aparecida de Norte entre ida e volta, por estradas de difícil trânsito, em veículo desgastadíssimo por muitos anos de uso com iminência do risco de quebra, obstruindo assim o desejo de se chegar ao destino? Naquela época a ajuda mecânica distava quilômetros, tinha que contar com a polivalência do condutor. Obter uma graça, um milagre? Pois os devotos de Nossa Senhora da Conceição sabiam que Ela tinha sido encontrada por pescadores no Rio Paraíba do Sul, que naquele dia não se obtivera qualquer peixe e depois de algumas tentativas quase desistindo eis que, ao lançar a rede encontraram “pescaram” uma imagem negra.
Ir à Aparecida do Norte, significava além de rezar, pedir proteção, agradecer às graças recebidas, ou revelar sua gratidão pelos desejos realizados à mãe de Jesus, que é a Padroeira do Brasil desde 1930,tratava-se de um lugar de paz. Quem não fosse através de fé certamente poderia reclamar de íngreme lugar das ladeiras entre sobe e desce acompanhado de forte calor ou dias chuvosos. Estar nos santuários provavelmente nutriam a esperança de minimizar a dor de um povo simples e sofrido.
E assim cumprindo suas promessas acendendo suas velas, assistindo a necessária missa, com a possível economia feita, era hora de comprar algum mimo como terços, imagens, fitinhas, chaveiros, imãs de geladeira, canecas a parente ou amigo, como o momento de retornar às suas residências, trazendo sua inquebrantável fé sentiam-se integralmente cumpridas suas promessas bem como o coração felicíssimo pela graça alcançada.
A fé pode ter um impacto profundo sobre a saúde. É uma experiência muito pessoal de pensamento e entrega que pode consolar em qualquer situação. A fé é gratuita e está ao dispor de todos, em todas as ocasiões, necessita apenas que se abrace plenamente a possibilidade, o valor final está na intensidade do abraço.
INIMAGINÁVEL IR COM ESSA CONDUÇÃO NOS DIAS DE HOJE.
ANÍZIO MENUCHI
Veja foto no link abaixo, página 10
http://www.caieiraspress.com.br/fotos/index.php?id=2
Da esquerda para a direita (demarcados e que pude lembrar): Aparecida Pereira, filha de José Pereira antigo guarda florestal da Melhoramentos; minha tia Olívia Menuchi, minha mãe Conceição Games Menuchi com meu irmão caçula Arcileno Carlos Menuchi, meu pai Richeto Menuchi, minha irmã Guiomar Maria Menuchi, eu Anízio Menuchi, meu irmão Francisco Richeto Menuchi, João Pereira e o bom vizinho Satiro.
Comentários:
Simplesmente linda a crônica “ Ida a Aparecida do Norte sobre uma caminhão pau de arara”. Voltei no tempo com tão emocionante descrição deste passeio tão comum aos antigos melhoramentinos. E lendo este texto caprichosamente escrito pude eu, também, recordar de uma ida àquele lugar sagrado. Futuramente contarei aos leitores. Agradeço e parabenizo o cronista Anízio Menuchi por compartilhar tão belas recordações de uma época tão maravilhosa na vida de todos nós antigos moradores das Vilas da Fábrica. Parabéns!
Fatima Chiati