14/11/2016
Porque a conta de luz é alta

Poucos consumidores sabem que, quando pagam a conta de luz, estão pagando bem mais do que a energia consumida. O custo de geração, transmissão e distribuição de energia não é barato, mas o valor pago pelo consumidor para dispor desse insumo essencial da vida moderna supera em muito esse custo e a devida remuneração dos investimentos das empresas fornecedoras, pois a conta embute dezenas de subsídios e outras despesas. Estima-se que esses acréscimos correspondam atualmente a cerca de 20% do total pago pelo consumidor. Se somados os impostos, a parcela adicional ao custo efetivo da energia consumida supera a metade do valor pago. Além de onerar famílias e empresas, essa prática, como observou em entrevista ao Estado o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, distorce os preços e as regras de mercado.

Os consumidores em geral são obrigados a arcar parcial ou totalmente com o custo, entre outros, do Programa Luz Para Todos, do uso de usinas térmicas para o abastecimento da Região Norte, do incentivo para a produção de energia eólica ou de biomassa e do subsídio para pequenas hidrelétricas e pequenas distribuidoras.

A esses ônus o fracasso do programa populista do governo Dilma Rousseff de redução das tarifas e de renovação das concessões no setor elétrico impôs o custo das indenizações das empresas transmissoras que não foram ressarcidas pelos investimentos realizados até 2000. Estima-se que essas indenizações implicarão aumento médio de 3% da tarifa de energia a partir de 2017.

A prática tem sido a de incluir mais beneficiários entre os contemplados pelos subsídios que oneram o consumidor. Medidas provisórias que tratam do setor elétrico costumam receber no Congresso emendas que acrescentam novos contemplados. Daí o diretor-geral da Aneel falar em necessidade de um “freio de arrumação”.

Muitos desses subsídios podem ser justificados como políticas públicas necessárias para a proteção de famílias ou regiões com dificuldades de acesso à energia elétrica ou para estímulo ao uso de determinadas fontes. O que se questiona é a inclusão de tais subsídios nas contas de luz e não nas despesas orçamentárias do governo, como deveriam ser.

Como reconhece Rufino, cada subsídio, isoladamente, pode fazer sentido. “O problema é que, empilhados, eles atingiram um patamar insustentável para a tarifa de energia”, diz.

Chegou-se a uma situação tal que, apesar de seu alto custo de geração – pois provém de usinas termoelétricas e não de hidrelétricas ou eólicas, como ocorre em outras áreas –, a energia consumida em Roraima, único Estado não atendido pelo Sistema Interligado Nacional, é a mais barata do País, por causa dos subsídios.

A maior parte dos subsídios é canalizada para a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um dos muitos itens que compõem a tarifa de energia, para a qual a contribuição dos consumidores das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste é 4,5 maior do que a dos das Regiões Norte e Nordeste.

Além de favorecer as termoelétricas do Norte e Nordeste, o que gera distorções de preços como a observada em Roraima, os subsídios beneficiam também o agronegócio, pois, para reduzir em 10% as contas de luz no campo, os demais consumidores pagam R$ 2,9 bilhões por ano.

Some-se a esses benefícios o peso dos tributos e se chega ao tamanho das contas que brasileiros têm de pagar mensalmente. São cerca de 6,5% do valor da conta referentes a PIS/Cofins para o governo federal, mais o ICMS recolhido para os Tesouros estaduais. O CÁLCULO DO TRIBUTO ESTADUAL É FEITO “POR DENTRO”, OU SEJA, INCIDINDO SOBRE O PRÓPRIO IMPOSTO. QUANDO A ALÍQUOTA NOMINAL DO ICMS APLICADA É DE 25%, COMO NAS CONTAS RESIDENCIAIS DE SÃO PAULO PARA QUEM CONSOME MAIS DE 201 KWH POR MÊS, A ALÍQUOTA EFETIVA PASSA A SER DE 33% DO VALOR DA CONTA. (grifo meu) Não é à toa que energia elétrica, seguida pelos serviços de telefonia, se tornou a principal fonte de receita para a maioria dos Estados, à custa do consumidor.

Lei ora lei. Um governo famélico que não se presta a respeitar a lei, burlando-a descaradamente com doses de artimanhas.

Com a palavra o Ministério Público.

Anizio Menuchi

Fonte: Jornal o Estado de São Paulo



Leia outras matérias desta seção
 » A Nação quer mais
 » Irmãos Weiszflog e sua administração
 » Estaríamos cada vez mais indo para o buraco?
 » Maradona e o trabalho da Imprensa
 » As eleições vem aí
 » Castigo físico na fala de Ministro
 » Professora Rotralth Friese Nunes (dna.Tico)
 » URMSP – Um passado de gloria
 » Um farmacêutico devotado
 » Weiszflog a dívida irresgatável
 » Bonsucesso do meu nascedouro
 » A represa de minha juventude
 » Linha Férrea Bom Sucesso
 » Menuchi: imigrantes Italianos
 » Candidatos à Diretoria da URMSP
 » Um caieirense antigo
 » Meu Pai, minha referência para vida
 » Brancos e Negros
 » Conjunto Acapulco você já dançou com êles ?
 » Nos tempos do URMSP (Clube União)
 » A casa no Bonsucesso
 » Embrionária competição à Miss São Paulo
 » Momentos marcantes de nossa juventude
 » Momento de Cátedra no Walter Weiszflog
 » Veneração ao Bom Jesus de Pirapora
 » Não perguntem o que a América fará por vocês...
 » Ida a Aparecida sobre um caminhão
 » Como vai você caieirense? tempos outros!
 » Viagem de bicicleta a Pirapora
 » Quem vai por o guizo no pescoço do gato?
 » O preço de uma martelada
 » Porque a conta de luz é alta
 » Padaria Caieiras
 » A Edilidade em Caieiras em 1968
 » Minha infância no salão de festas do Brasil F.C.
 » Homenagem a Fausto Menuchi
 » A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco
 » Acautelador
 » Delinquência generalizada

Voltar