07/06/2020
A Viagem (com a sogra) - Terceira parte

De Las Vegas, fomos para um final de semana em Big Bear, numa estação de esqui.

Meu genro, nessas alturas, estava morto de cansaço, por ficar várias noites sem dormir jogando no cassino, reclamando o tempo todo, que não gostava de neve, praguejando que tomara estivesse tanto frio lá que eu iria me arrepender, e caso eu morresse por conta disso, me enterraria lá mesmo.

Mesmo ouvindo todas essas lamúrias, eu estava feliz.

Quando lá chegamos, parece que a praga dele pegou, teve uma nevasca, e como o hotel era todo de vidro, maravilhoso, eu pude ficar olhando aquela neve caindo com força, sentada numa mesa, perto de uma lareira acesa, tomando um vinho, conforme eu sonhara. Claro que ele foi dormir cedo, mas eu tive esse prazer de estar ali, embora, gostaria de estar acompanhada de meu marido que ficara no Brasil.

As 6 horas da manhã do dia seguinte, eu estava de pé, tomando meu café e louca para sair lá fora, sentir a neve nas mãos, caminhar por ela, mas tinha que esperar por eles, e também precisávamos dos calçados adequados, pois só tínhamos as roupas para andar na neve.

Enquanto eu esperava, observei que do lado de fora da porta, que estava bem próxima a mim, tinha uma pinha tão grande, que eu jamais tinha visto igual, e resolvi que ia dar um jeito de pega-la para levar de lembrança. Poderia esperar eles levantarem para fazer isso, mas já imaginei minha filha falando, para que eu deixasse de ser caipira, que não ia levar nada, então analisei que embora eu estivesse de roupas leves, afinal dentro do hotel tinha aquecimento, era só eu abrir a porta rapidinho pegar a pinha e mal daria para sentir o gelo lá de fora, que naquele momento estava em torno de 13 graus negativos.

Esperei que nenhum garçom estivesse olhando, abri a porta devagarinho, tentei segura-la com o pé, mas escorreguei e ela se fechou comigo lá fora...

Senti o gelo bater em meu rosto, segurei firme a pinha e quando tento abrir a porta para voltar, percebo que ela só abre por dentro. Eu estava presa lá fora, e por alguns segundos, fiquei esperando que alguém aparecesse para me acudir, mas ninguém veio e então eu tive a infeliz ideia de dar a volta até a entrada do hotel, a uma distância de ½ quadra de onde eu estava. Pensei em correr, mas percebi logo que era impossível, pois como nevara muito na noite anterior, eu afundava na neve e mal conseguia me mover... O caminho que eu faria em dois minutos correndo, levei uns 20. Sabia que tinha que andar, que precisava me mexer, ou morreria ali congelada. Um homem me viu e gritou algo, mas eu não entendia nada e segui tentando e caindo várias vezes e quando, finalmente, cheguei na portaria do hotel, estava toda molhada e congelando, com estalactites no nariz, e com buço, sobrancelhas e cílios brancos. Corri para o quarto, eles dormiam, eu procurei me trocar, sem fazer barulho, mas eu mal conseguia me mexer, e não queria acorda-los. Desci de novo, sentia que estava mal, e procurei me aquecer com uma bebida quente.

Detalhe importante: a pinha estava muito bem guardada.

Quando finalmente eles acordaram, saímos para ir a uma pista de esqui, mas eu decidi ficar com minha filha e neta apenas curtindo a neve e brincando de esquibunda, do qual levei mais um tombo, mas agora devidamente agasalhada para estar ali.

Não contei nada de minha aventura para eles.

Aproveitei o máximo que pude daquele passeio e gostaria de ter ficado mais alguns dias...

Quando estávamos arrumando as malas no carro para a volta, eis que minha filha vê a tal pinha gigante que eu tinha pego e foi logo me dando bronca... “deixe isso aí mãe!” ... “de forma alguma, só eu sei o que passei para pegar essa lembrança”. Naturalmente ela não entendeu nada...

A viagem de volta, foi outra aventura, a estrada estava mais lisa que sabão, e meu genro teve que parar e comprar correntes para colocar nas rodas, evitando assim o perigo de derrapagem pois não havia acostamento e logo abaixo era só precipício. Claro que ele estava muito “P. da vida” comigo...

Eu só ficava pensando se eles soubessem o que eu tinha aprontado por conta da pinha gigante, o sermão que me dariam...

Depois de algumas horas de viagem, chegamos a Los Angeles, onde descansamos um pouco e já trocamos as malas para a próxima viagem, ou melhor, próxima aventura, dessa vez indo para Honolulu, no Havaí.

Mas essa parte da história, fica para a próxima crônica...

ps.: alguma coisa já não estava bem em mim...

Selma Esteticista



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