O cacto 🌵
Na verdade eu nunca fui fã de cactos… seu aspecto espinhoso, inflexível sempre me deu um certo mal estar, e ainda sendo uma planta que gosta de lugares áridos, secos como o deserto, me lembra calor escaldante, falta de sensibilidade, e frieza extrema como são as noites nesses lugares. A mudança de um extremo para outro, sempre me causou calafrios …
Mas eis que um dia daqueles que a gente fica cabisbaixa, tentando absorver ou compreender alguns tombos que a vida nos dá, eu tropeço num pé de cacto no caminho… olhei pra ele e enxerguei apenas uma planta que estava desmaiada, quase morrendo, aparentemente arrancada de seu canteiro e jogada impiedosamente no meio da rua.
E de repente ele fala: “ oi, lembra de mim”? Um cacto falante…? e ele continuou:
“Eu estava ali naquele jardim, vc passou por mim muitas vezes, mas nunca me viu… pode me dar a mão, pode me ajudar? Vamos ser amigos”?
E lá fui eu carregando o pé de cacto pra minha casa, afinal ele olhou pra mim, me enxergou num momento que eu estava um tanto perdida, de certa forma arrancou -me dos pensamentos taciturnos, me fez sorrir em ver um “cacto falante “!
Eu busquei um cantinho pra ele no meu jardim, junto com minhas flores mais queridas, afofei bem a terra, adubei e quando achei que ele estava bem e salvo da morte eminente que se encontrava, sinto uma agulhada em minha mão e logo percebi que ela estava cheia de pequeninos espinhos vindos de onde? Do senhor cactos falante.
Mas que serzinho fdp, eu cuidei de você , salvei sua vida da solidão, e recebo espinhos…? Ele me olhou com aquela cara espinhosa e foi logo dizendo: “ eles são meu escudo amiga humana, não tenho como evitar”… parei para pensar se não seria o caso de arrancar logo aquele serzinho ingrato, mas resolvi lhe dar mais uma chance e outra e outra…mas ele continuou a pagar o meu carinho e cuidado, com suas alfinetadas espinhentas. Quando eu resolvia arrancá-lo de vez, e jogar pra bem longe de minha vista, sabem o que ele fazia?
Amanhecia o dia com uma linda florzinha e olhando pra mim, dizia: “ pra vc”!
É assim, fui levando espetadas e mais espetadas, ganhando florzinhas e esperando que um dia fossem só as flores…
Mas o cacto… ah o cacto… ele não mudou nem um tiquinho…
Foi me dando cada vez mais espinhos e menos flores, foi ficando duro, espinhento e antipático, esqueceu da mão que só lhe ofereceu carinho…
Acho que vou ter que arrancá-lo do meu jardim.
Ah “cacto falante”…
Que pena, eu gostava tanto de conversar com você…
PS essa crônica não se trata de um cacto 🌵