Tudo começou com um convite para uma viagem familiar.Iríamos para a casa de campo de meu genro. Não bateu aquele entusiamo em meu marido e eu logo percebi que não era um bom momento para viajarmos. Mas... resolvemos que iríamos. Passados uns dias, um acontecimento inesperado nos deixou numa situação ainda mais difícil para irmos. Quando resolvemos desistir, pessoas da família nos incentivaram a ir, mesmo que fôssemos de carona, mas que deveríamos acompanha-los. Ficamos até emocionados com a insistência, afinal nossa presença parecia importante para alguns.
No dia combinado, ficamos prontos na hora marcada só aguardando a povo se reunir e qual não foi minha surpresa quando percebi que a viagem não seria só em família, haviam convidados que não eram do meu relacionamento. Confesso que não gostei da surpresa. Quando finalmente saímos, arreou um temporal daqueles que não pedem passagem e saem riscando os céus com seus raios ameaçadores e trovoadas que deixaram minha pobre cachorrinha ( sim tinham animais incluídos na excursão) de coração acelerado e ofegan
te, afinal era seu primeiro passeio longo de carro e ela nunca tinha visto um temporal de perto. O carro apesar de grande, começou a embaçar pois tivemos que fechar as janelas e eu esquecendo que estava de “carona”, fui logo dizendo: “pode ligar o ar condicionado, por favor?”Ouvi como resposta um sonoro “NÃO”Sim o dono do carro, deixou claro que ali ele faria o que achasse melhor e que eu ficasse “na minha”. Foi o primeiro coice com ferradura e tudo do cavalo que dirigia o veículo.
Seguimos o comboio, eu mais calada que uma “muda “... e olha que isso é muito difícil para mim. Estava sozinha no banco de trás, com minha cachorrinha, mas tinha tanta coisa naquele carro, que eu mal podia me mexer. Como é uma caminhonete, os demais convidados lotaram o carro que eu viajava, com as tralhas que não cabiam nos demais carros, aliás todos grandes...Deixaram o espaço mínimo para assentar minha bunda e de preferência sem me mexer muito.
Nessa hora, meu senso de humor, me lembrou “Caco Antibes”... “pobre indo pra uma casa de campo, levando coberta, travesseiro e panelas... affff”Seguimos viagem e felizmente houve uma parada para um café e para os bichinhos poderem fazer suas necessidades. No meu caso, foi mesmo para poder esticar as pernas que nessas alturas já estavam dormentes e para poder respirar um pouco de ar “puro”, uma vez que o “dono do carro”, é fumante e não fez nenhuma cerimônia em satisfazer seu vício, dentro do carro em movimento.Nessa hora eu agradeci o uso da máscara obrigatória, porque usei para conseguir respirar menos aquele ar horrível de cigarro.
Só estávamos no meio da viagem...O som do carro ligado num volume que distraia até os carros vizinhos na estrada ... Quando finalmente chegamos, aliviada fui logo para os aposentos que me foram destinados. O lugar é lindo. Daria para relaxar sem dúvidas, se no terceiro dia eu não tivesse ficado doente e tendo que ficar na cama quase o resto do tempo, única posição que eu não sentia dor. Conseguir o medicamento que minha médica prescreveu, foi outro marco histórico. Remédio caro, na região só por encomenda. Mas meu marido não desistiu e acabou indo buscar numa cidade vizinha.
Nessas alturas eu contava as horas para poder vir embora!Sentia- me mal com as dores e pior ainda quando vinham me perguntar: “ainda não melhorou?”Difícil explicar para leigos que minha doença é crônica e perigosa. Criei coragem e pedi para o “dono do carro”, se poderíamos voltar de manhã, pois se fosse o caso de eu ter que ir para o hospital, queria chegar mais cedo. Ele de pronto concordou. Estava calmo, de bom humor, eu achei que preocupado com o meu bem estar. Levantamos cedo, arrumamos tudo e fomos acorda-lo, conforme o combinado.
Pensem numa pessoa mal humorada. Era ele. Não olhou na cara de ninguém, entrou no carro feito o rei do gado, e esperou com um olhar de ódio para que nós “os caronas" adentrássemos no veículo, meu marido distraído, não colocou de pronto o cinto de segurança, o que fez com que o motorista ficasse olhando para o vazio, e nós com cara de idiotas, não sabíamos o motivo para ele não sair com o carro. Quando finalmente meu marido colocou o cinto, ele fez uma manobra tão brusca que eu, que mal podia respirar por conta de minha dor, quase perdi a barriga inflamada ali mesmo.
Senti que a viagem seria tensa. Tentei travar minha língua e apenas respirar, sem fazer barulho, para incomodar o mínimo possível o ser que estava no volante. Mas... eu vi uma coleção de carros antigos viajando juntos na estrada e empolgada falei sem pensar: “olha que bonitos... eu já dirigi carro desses!”Como a reação dele, foi um olhar de desdém, eu não me contive e larguei o verbo: “PQP EU LHE FIZ ALGUMA COISA?”Cutuquei o búfalo com vara curta. Ele bufando literalmente, me disse: “quer fazer o favor de não me encher o saco?” Bom... enfiei minha língua na boca e mordi para não responder mais nada, afinal eu estava de carona.
Mas, apesar de tudo, chegamos em casa, onde eu adentrei o mais rápido possível, pois tinha urgência de fazer um xixi. Entrei no primeiro banheiro, no caso, na área de serviço de meu apto. Quando finalmente aliviada, abri a porta... dei de cara com um cano de revólver apontado para minha cabeça. Não tive reação. Paralisei. Então, meu neto que é militar, respira fundo e diz: “PQP VÓ. QUASE LHE DEI UM TIRO.”Ele não esperava ninguém em casa naquela hora. Ouvindo o barulho, estranhou e foi atrás. Quando percebeu que alguém tinha se “ escondido no banheiro”, esperou de arma em punho!!!Detalhe: sua namorada, também militar, estava logo atrás escondida com outra arma na mão. E foi assim que essa aventura acabou. Amanhã vou à minha médica. Se estiver viva Kkkkkkkk Ahhhh!!!Aceitem um conselho! Evitem ser carona.
Selma Esteticista.