A Viagem (com a sogra) - Primeira parte
Foi num ano que o fenômeno El Ninho estava atuando forte no Brasil, então o calor era insuportável principalmente na região litorânea, onde moramos.
O casal havia planejado uma viagem de férias pelos US. Já haviam morado lá, mas no momento estavam residindo no Brasil, e como iriam a um casamento no Havaí, resolveram fazer um tour por alguns estados.
Eu, no caso “a sogra”, vivia o período que classificava como “sobrevivência”, uma vez que nunca gostei do verão intenso, pois sempre dificultou meu trabalho. Logo eu estava mais cansada e irritada, valendo dizer aqui, que naquela época não haviam esses aparelhos de ar condicionado silenciosos e eficientes. Então tinha que trabalhar com aquele zumbido irritante do aparelho. Estou contando isso para que vocês entendam o quanto estava estressada.
Foi num dia desses que minha filha me convidou para fazer a viagem com eles, mas fui logo perguntando:
-Viajar? Para onde? Havaí? Calor? Nem pensar!!!
Minha cliente, sendo atendida naquele momento, interferiu na conversa dizendo para que pensasse bem, pois “era um lugar maravilhoso, que não teria o calor que estávamos vivendo em nossa cidade”, mas mesmo assim, pedi um tempo para pensar.
Fiquei sabendo dos lugares que iríamos passear: Los Angeles na Califórnia, Las Vegas em Nevada, Honolulu no Havaí e também, na Disney.
Era inverno lá, mas não tão intenso a ponto de nevar. E foi por essa “ausência de neve”, que decidi que não iria, afinal, tinha dois sonhos: conhecer Paris e ver a neve.
Pronto, minha filha ficou inconsolável, pois queria dar para a mãe essa viagem de férias, que tinha sido planejada há meses, com todo o requinte e mordomia que eram possíveis naquele momento.
Para me convencer, refizeram os planos incluindo um fim de semana em Big Bear, uma estação de esqui nas montanhas de Los Angeles.
Convencida afinal, e sabendo que a outra sogra (da filha) também estaria por lá, resolvi aproveitar a oportunidade de sair daquele “caldeirão de vapor” que estava nossa cidade.
Arrumar malas sempre foi um pesadelo para mim, e minha filha precisou ajudar, embora ainda tivesse que suas malas, de mais 2 crianças e do marido, que é daqueles que “paga tudo” mas não faz nada. Ainda tinha o filho adolescente que morava comigo (a avó) que levou uma mala praticamente vazia, pois pretendia trazer um novo guarda roupa de lá.
Vale dizer aqui, que não tive tempo de fazer economias para levar, então ficaria mesmo por conta do genro, afinal, ele fez questão de me levar.
Num dia de fevereiro, saímos de nossa cidade numa van alugada com motorista. Fomos para São Paulo, onde ficamos num hotel. Meu genro sempre gostou de fazer tudo com calma, sem correrias e muito menos stress.
Não era minha primeira viagem internacional, mas ainda não conhecia os US. Confiei no Inglês do meu neto, e claro, genro e filha também.
Já no aeroporto na hora de passar pela polícia federal, as crianças começaram a dar uma amostra do que seriam as férias, pois não saiam sem suas mamadeiras de chá e ao pedirem para tirá-los dos respectivos carrinhos e entregar as mamadeiras, eles começaram a gritar e espernear fazendo com que os policiais dispensassem a revista e pedissem para todos passarem depressa para aplacar a fúria dos dois. (primeiro mico)
Na época, eles tinham respectivamente 15, 4 e 2 anos, sendo que os dois menores, eram geniosos e não gostavam muito de sair de casa, onde tinham seus cantinhos favoritos e demais aparelhos, joguinhos etc.
O avião levantou voo sem atraso, a viagem até Los Angeles, teria sido relativamente tranquila, se por muitas vezes os pais não tivessem que se levantar para caminhar com as crianças e distrai-las, porque o tempo todos eles perguntavam como o famoso burro do Shrek:
-Já chegou? Vai demorar? Eu quero descer...
Por volta de uma hora antes da chegada, minha filha precisou ir ao banheiro com uma tremenda dor de barriga... E aí começou mais uma das aventuras: ela ficou lá dentro daquele minúsculo cubículo, “entalada” sem conseguir fazer sua necessidade, até o momento em que o avião sobrevoando a cidade de Los Angeles, precisava pousar, mas para isso, ela teria que sair de lá.
Nessa altura, uma aeromoça veio falar comigo, para que eu tirasse minha filha do banheiro, afinal o avião precisava aterrissar.
Situação cômica se não fosse trágica. Não vou entrar nos detalhes da forma que ela saiu com todos os passageiros olhando para a cara dela, que estava roxa de vergonha, afinal já haviam dado 3 voltas em torno do aeroporto. O marido em questão, fez de conta que não a conhecia. (segundo mico)
Quando finalmente, descemos e fomos para a imigração, o show foi outro, porque as crianças, não queriam de novo, sair de seus carrinhos e muito menos, largarem as mamadeiras, que dessa vez estavam com água. Quando a mãe levou a mamadeira à boca para mostrar aos policiais o que era o líquido, apontaram uma metralhadora para a cabeça dela, e eles tiveram que entrar para uma salinha privada. E nessa confusão, acabei sozinha para passar por eles e vi que meu inglês “basiquinho” não me ajudava em nada, pois não conseguia passar pelos detectores de metal, sem que a porcaria apitasse. Fui tirando tudo o que podia, eles gritando comigo, até que finalmente, quase sem roupa, perceberam que meu modelador para a coluna, tinha botões de metal.
Consegui então passar... estava em prantos... mas quando minha filha, se livrando dos policiais, veio em minha direção, caímos numa gargalhada quase histérica e meu genro ficou com aquela cara de quem não entendeu nada. Aliás, quem entende as mulheres, senão elas mesmas? (terceiro mico)
Depois de alugar um carro nos encontramos com a irmã de meu genro que mora em Los Angeles e daí realmente começaram as férias...
Fomos conhecer lugares maravilhosos, as compras super bem sucedidas, pois eles sabiam exatamente onde ir para faze-las. Eu estava tão deslumbrada que não conseguia comprar nada, embora eles insistissem para eu escolher o que quisesse.
Conheci Shoppings que jamais imaginei que existissem, lojas tão lindas que os olhos se satisfazem apenas de olhar.
Um dos passeios que mais me marcou, foi nossa ida até Hollywood, nos estúdios da Universal Filmes, simplesmente fantástico, eles têm verdadeiras cópias de cidades, como Paris, Londres, etc. Participamos de cenas de filmes famosos, que recriavam ali na hora, junto com o público.
Os cenários são de uma autenticidade, que fica até difícil não entrarmos na fantasia daqueles momentos e viajarmos na magia do lugar...eu mesma dancei pelas ruas de Paris, tirei fotos com a guarda real de Londres e viajei num trem que desgovernado, chocava-se com um caminhão de combustível, que pegava fogo de verdade e naquele momento, tive certeza que ia morrer...ahhhhh Hollywood!
Também me deixaram extasiadas restaurantes que ele nos levava: cada dia de uma nacionalidade, às vezes, nós não sabíamos se comíamos, ou se ficávamos admirando os lindos garçons que nos serviam...especialmente num restaurante grego. Eles eram treinados para encantar, com certeza. Haja sabedoria nessas horas em que nós mulheres (éramos três) ríamos muito e nos comunicávamos com o olhar. Mas meu genro tirou a forra, uns dias depois...
Quando fomos num restaurante italiano, ficamos acomodados numa sala só para nossa família, e a decoração era feita de parreira de uvas, com enormes cachos da fruta pendurados. O aroma era indescritível, a música nos convidava para dançar, meu sangue italiano calou fundo em minha alma naqueles momentos.
Continua...
Selma Esteticista