04/01/2017
O doutor

O Dr.
Como já contei a vocês, eu não costumava atender homens, a não ser que fossem indicados por outros clientes. No caso que vou contar, ele foi muito bem recomendado. Um médico cirurgião, conceituadíssimo em minha cidade.

Mas, como sempre fui precavida, comentei com uma cliente, que também era médica do mesmo hospital, onde o Dr. atendia, procurando tirar mais informações sobre ele.
Então ela me contou que como médico ele era excelente, mas como homem... era um “Dom Juan” e que as enfermeiras brigavam por ele.

Fiquei um tanto desconfiada e curiosa. Que homem seria esse, capaz de provocar o burburinho generalizado entre as enfermeiras?
Até que chegou o dia de atendê-lo. Eis que me chega à porta um homem de 2,05 m de altura, que não coube em minha maca.

Nunca tinha visto um homem tão grande. Mas também muito simpático, falante, charmoso...
Entendi o porquê de tanto sucesso com as mulheres. Um homem não precisa ser bonito para seduzir, nós mulheres sabemos disso... e ele também.

Apesar do tamanho e de ser um cirurgião, ele era também um medroso.
Foi logo dizendo que nunca tinha feito uma limpeza de pele e que se eu o maltratasse ele, sairia correndo. E quase saiu mesmo.... levantou-se da maca várias vezes, saiu da sala, foi respirar lá fora, para ganhar coragem de continuar, cômico...

Eu não acreditava em tamanha covardia, vinda de um homem tão grande.
Mas, eu já estava habituada a lidar com qualquer tipo de reação numa limpeza de pele, principalmente, vinda de homens, que sinceramente, são um tanto fraquinhos para qualquer dorzinha.

Consegui terminar meu trabalho e ele, apesar do medo, gostou tanto do resultado que me pediu para marcar uma próxima vez, só que a limpeza seria em suas costas.
Soube então, por ele mesmo, que tinha problemas de saúde que geravam consequências na pele e que breve ele teria que fazer uma cirurgia delicada por conta disso.
Quis ajudá-lo e marquei a limpeza em suas costas, esquecendo-me sinceramente de sua reputação.

No dia marcado, lá estava ele de novo, sem nenhuma pontualidade, fato que é comum nos médicos, já que nunca sabem como será seu dia de trabalho. Mas eu sabia lidar com esse tipo de cliente também.
Para minha surpresa, ele chegou cantando uma música, que disse fez para mim.... rsrs... claro que era mentira.

Mais uma surpresa... ele tira de sua bolsa, um bisturi , luvas cirúrgicas e me diz...: - “Tenho um abscesso nas costas e vou ensinar você a tirá-lo.
Eu não acreditei no que ouvi, mas ele estava falando sério. Pegou um espelho de aumento, colocou estrategicamente e começou a me dar ordens.
Sinceramente, nem eu sei como, mas aceitei o desafio.

Segui suas orientações e fiz o procedimento.
Quando terminei, ele me disse que sabia desde a primeira vez que me viu, que eu era firme o bastante para fazer aquilo e que saindo dali iria pedir a um colega que suturasse o pequeno corte. Ele tinha medo da esteticista, mas não tinha medo do bisturi. Incrível!
Tivemos outras sessões, até que um dia, quando já tinha me esquecido de sua fama, eis que sinto na minha perna uma mão, que claro, era a dele.

Fiquei em choque, mas consegui dizer:- “Você tem um segundo para tirar a mão daí”.
Ele, na maior cara de pau respondeu: - “Ah Selminha, não fica brava, eu tinha que tentar, senão como que eu ia saber que tipo de Mulher Você é?”
- “Agora você já sabe” - disse eu – “E nunca mais faça isso”.
Confesso que tive vontade de rir quando vi a cara dele.
Mas ele sacudiu a poeira e deu a volta por cima quando me respondeu: - “Você ganhou um amigo fiel”.
E foi verdade, ficamos amigos, ele virou meu médico e me curou de uma dor crônica.



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