25/09/2012
A lição do pato .

Sou da época onde cursar uma faculdade era coisa de alguns pobres teimosos ou de filhinhos de papai. Olhe que não sou tão velho assim. Estou falando de apenas cinqüenta anos atrás. Os cursos superiores disponíveis se contavam em duas mãos. O mais comum era completar o primário, ir ajudar o pai na roça, ou arrumar um trampo para defender o pão de cada dia.

              Terminar o ginasial tinha certo status e era para poucos. E o sujeito enchia o peito para dizer que tinha o ginasial completo. Depois vinha o Cientifico, o Clássico e o Normal. Cursava o primeiro quem tinha vocação para a área de exatas e biológicas, e o segundo para quem tivesse vocação para línguas e direito, se não estou enganado, e o Normal, para quem queria seguir o magistério.

              Muito bem, eu fiz parte daqueles pelados que lutou com muita dificuldade para fazer um curso superior, no meu caso Agronomia. Exatamente por isso, dou valor para tudo que conquistei e conquisto em minha vida. Como se diz: “todos querem o perfume das flores, mas poucos sujam as mãos para cultivá-las”.

              Muitas vezes, a alternativa que nos restava, para fugir do cabo da enxada, era entrar num seminário e tentar se tornar padre. Dessa eu escapei, mas tive na boca da área. Até acho que a igreja não perdeu grande coisa!

              Hoje em dia vejo com muita freqüência, amigos dos meus filhos trocarem de curso duas ou três vezes, sempre alegando que o tal curso não tem nada a ver com sua personalidade ou vocação. Na maioria das vezes, acabam sem fazer curso algum, ficando perdidos e sem rumo por um bom tempo na vida.

               Franklin Roosevelt dizia que, quando uma pessoa fica como barata tonta, pulando de galho em galho, pela vida afora, dificilmente será alguém bem sucedido profissionalmente. “Franklamente” eu até conheço algumas exceções, mas acho que ele tinha lá suas razões.

              A pior coisa do mundo é não saber o que se quer da vida, ou pior ainda, é quando a gente sabe, mas surge alguém, principalmente da nossa família, nos pressionando a desistir em nome das melhores intenções. Isso me faz lembrar a história infeliz do frustrado Joãozinho. Quando pequeno, queria brincar de boneca e seu pai proibiu -, alegando ser coisa de veado. Aos dez, foi ajudar a mãe na cozinha também foi proibido pelo mesmo motivo. Aos doze, queria ser bailarino e ouviu a mesma cantilena... Já com dezesseis anos, cismou de ser cabeleireiro e seu pai lhe proibiu novamente alegando ser coisa de mariquinha. Aos vinte, quis ser cabeleireiro e a família novamente “cortou seu barato”, alegando não ser coisa para homem. Finalmente Joãozinho cresceu se transformou num belo rapaz. Hoje, é veado e não sabe fazer coisa nenhuma! É desse jeito...!

              Na minha época não tinha disso não! Primeiro a gente agradecia a Deus por ter tido uma oportunidade de estudar, depois estudava feito um maluco, para se formar sem repetir o ano. Em seguida, já com o diploma na mão, íamos à luta com muita garra para vencer na profissão que havíamos abraçado. Não tinha essa de mudar de curso. O sistema era bruto, amigo! E dava certo.

              Sem dúvida, o ser humano tem vocação para exercer muitas profissões na vida, desde que tenha foco, muita dedicação e dignidade naquilo que faz. Aí é que entra a lição do pato. A pobre ave quer andar, voar, nadar e acaba não fazendo nenhuma delas bem feito. Em compensação, Deus lhe deu uma “sabedoria” incrível. Qual foi? Nascer com os dedos grudados pra não precisar usar aliança. “Amigo, lembre-se se um dia fecharem a porta de sua vida, pule a janela, mas siga enfrente”.

              E VIVA A LIÇÃO DO PATO!

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Osvaldo Piccinin

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