09/05/2012
Jabuticabeiras centenárias

Existem muitas coisas que são típicas do Brasil e a jabuticabeira é uma dessas preciosidades. Esta frutinha de cor preta e sabor agridoce é nativa de nosso país.
     Hoje temos variedades precoces, modificadas geneticamente, que dão frutos com apenas dois ou três anos de plantada, mas nem sempre foi assim. Antigamente as árvores nativas demoravam de dez a quinze anos para começarem a produzir.
     Quero homenagear quatro jabuticabeiras centenárias que fizeram parte da minha infância e acompanham minha família por três gerações. Trata-se de pés francos, ou seja, nascidos de sementes e não de um enxerto. O autor dessa proeza foi meu bisavô Pietro há quase cento e trinta anos quando imigrou da Itália para Tatu, um lugar próximo da cidade de Limeira (S.P.), a fim de trabalhar com seus dois filhos, numa fazenda de cultivo de café, lá pelos idos de 1890, logo após a uma terrível crise na Europa.
Contava meu avô ao meu pai, que estas árvores deram os primeiros frutos quinze anos após o plantio das sementes. São da variedade Sabará e seus frutos maravilhosamente adocicados pela natureza são do tamanho de uma bola de gude, negras e brilhantes – obra prima da natureza!
As frutíferas, com vinte anos de idade, portanto produzindo há cinco, foram transplantadas pela primeira vez, quando a família se mudou para outro lugar distante. Não não tiveram dúvida, apesar de muito trabalho, levaram as árvores junto e no quintal da nova casa foram plantadas. Lá ficaram por mais vinte anos produzindo frutos e fazendo a alegria da família. Presenciaram meus avós envelhecerem e criarem todos seus onze filhos.
Em seguida houve mudança novamente e desta vez para o sítio que meu avô acabara de comprar. E lá se foram as jabuticabeiras onde ficaram por mais cinqüenta anos, e aí começou a nossa amizade e a nossa história.
    No sitio onde nasci, ocupavam um lugar bucólico no final da colônia. Recebiam água em suas raízes quase que diariamente, coisa que gostam muito e lhes faz produzir em abundância.
Ficavam enfileiradas uma ao lado da outra e tinham praticamente o mesmo porte,  bastantes galhos e muita carga todo ano. Além das frutas também nos forneciam forquilhas para nossos estilingues que ignorantemente usávamos para caçar os indefesos passarinhos.
Quando floresciam, eram as abelhas que faziam festa em suas flores brancas e perfumadas. Logo em seguida à florada vinham os pequenos frutos verdes, praticamente um encima do outro, agarrados firmemente em seu tronco e galhos. Éramos muitos meninos no sítio e todos acompanhavam a evolução dos frutos até a maturação, com atenção e respeito, pois foi assim que nossa avó nos ensinou - ninguém podia pegar uma fruta sequer, antes que todas estivem maduras - e recebêssemos sua autorização.
    A produção era tanta que além de nos deliciarmos, chupando as frutas, ainda sobrava para geléias, vinhos e para os sabiás e sanhaços.
   Lembro-me de minha avó sentada embaixo das fruteiras contando para nós a história dessas árvores, bem como nos passando sábios ensinamentos de vida. Para não estragar os frutos do topo das árvores ela nos recomendava começar a colheita pela parte de baixo do tronco. Ela repetia sempre o mesmo conselho: Não vão engolir o caroço, pois poderão entupir  “o cano da descarga”! Quem não obedecia se dava mal, com certeza.
Mas a história das jabuticabeiras viajantes não parou por aí. Depois de vários anos neste local, meu pai as transplantou novamente para o sítio dele, não muito distante. E estão até hoje produzindo frutos por mais quarenta anos - uma bênção!
Segundo fontes agronômicas, se bem cuidadas estas árvores viverão por duzentos anos ou mais e com certeza ainda farão a alegria de muitas gerações.
E VIVA AS JABUTICABEIRAS DO BRASIL!
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Osvaldo Piccinin

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