Há um sentimento de cumplicidade entre eu e minha cadeira de balanço e por esta razão, ela será minha homenageada nesta crônica.

            Quando menino, eu admirava pessoas idosas embalando seus sonhos e seus sonos numa dessas maravilhas. Sinceramente eu não entendia porque uma pessoa passava tanto tempo ali sentado, vezes dormindo, vezes divagando ao ritmo de um leve balanço.

            Um dia desses quando levei a minha cadeira, não tão velha assim, para trocar a palhinha, encontrei uma senhora na marcenaria que também lá se encontrava pelo mesmo motivo. “Puxei” conversa objetivando saber mais detalhes da história de sua jóia preciosa – uma velha cadeira de balanço.

            - Sabe meu filho, disse ela, com extrema simpatia - estou beirando os oitenta e cinco anos de idade. Esta cadeira pertenceu ao meu avô, depois ao meu pai, e finalmente a mim. Ela é protagonista de muitas histórias e segredos de minha família.   Foi embalando-a na varanda de sua fazenda, que vovô tomou conhecimento da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. Na verdade eram duas peças, vovó também tinha a sua, que foi doada ao meu irmão mais velho, por um desejo dela, um pouco antes de morrer.

            Vovô me contava que também foi nela que planejou as grandes realizações de sua vida tais como: comprar fazendas, casar, escolher os nomes de seus dez filhos etc. E foi sentado nela com sessenta anos de idade que ele faleceu de infarto -, jovem ainda e cheio de sonhos - uma pena!

            Em seguida foi a vez de papai usá-la. Fez uma reforma geral e a utilizou por outros quarenta anos, portanto pelas minhas contas ela tem próximo dos cem anos.       Somente comigo ela está há trinta e cinco anos. Assim como vovô meu pai também passava horas fazendo suas contas e seus planos de vida enquanto alisava uma palha de milho para fazer seu cigarrinho de fumo de corda. Ele gostava muito de contar histórias para seus vinte netos, todos sentados no chão, à sua volta prestando muita atenção em tudo o que ele falava. Quando acabava uma história nós  pedíamos: conta outra vovô, conta outra... Ele era incansável e tinha uma paciência infinita. Às vezes acho mesmo que a maioria de suas narrativas era inventada na hora, pelo fato de quase nunca repeti-las.

            Antes de morrer papai pediu aos meus irmãos que esta sua cadeira fosse passada para mim, e assim foi feito. Eu passo praticamente todas as tardes nela sentada tomando uma brisa e vendo o vai e vem das pessoas na rua. Foi nesta cadeira que li a maioria dos livros de minha vida e olha que não foram poucos! Também preparava minhas aulas de português para meus alunos da quarta série. Sentada nela por anos a fio, fiz o enxovais de meus netinhos e escrevi meu livro de receitas, pois gosto muito de cozinhar e durante minha vida colecionei muitas delas -, e fiz questão de deixá-las registradas para quem se interessar.

            Confesso que me deliciei com as histórias da “vozinha”, e passei a respeitar e valorizar ainda mais minha cadeira de balanço, pois eu também faço muitas reflexões quando ali estou. Também tiro meus cochilos e agradeço a Deus por ter tido o privilégio de ter uma delas e ficar entronado vendo o tempo passar. Juntos faremos a nossa história aliás, “A passagem do tempo deve ser encarada como uma conquista e não como uma perda”.

            E VIVA A PÁTRIA!

            [email protected]