09/05/2012
Casamento na roça

Tanto o namoro como o noivado precediam de muito respeito. O simples fato de pegar na mão ou beijar na boca deixava a moça “falada”, ou como se diz: “alça de caixão” - um larga outro vem e bota a mão.
As opções de escolha eram poucas, portanto as fases de namoro e noivado eram curtas. Não tínhamos esta fartura e muito menos esta liberdade que existe hoje em dia entre os jovens. Namorar e noivar era algo muito sério e a chance de virar em casamento, beirava cem por cento.
A virgindade feminina era a garantia para uma moça ser considerada de boa família e de ilibada reputação - moça direita pra se casar. Meu pai sendo de outra geração, contava-me que meu avô media com um cabo de vassoura, a distancia que o mesmo deveria ficar sentado enquanto namorava  minha mãe, além de ter hora marcada – duas horas de namoro no máximo e somente aos sábados e domingos.  Mãe solteira? Nunca ouvi falar, mas se houvesse era excomungada pela língua do povo e condenada a viver reclusa para o resto vida, isso quando não dava a criança para alguém distante criar.
Gente simples e de poucos recursos não tinham lua de mel, o mais usual era o casal mudava-se para um sítio vizinho ou aninhava-se num quarto improvisado na casa da sogra. Não sem antes dar uma lubrificada na cama - garantia de uma primeira noite sem os nhec, nhec denunciadores.
Animado mesmo era o baile do casório. Na verdade tratava-se de um acontecimento. Um mês antes os convites eram feitos verbalmente e os preparativos um grande alvoroço. Dois casais de padrinhos - um para cada lado - eram escolhidos. Hoje em dia, das poucas vezes que fui convidado para ser padrinho, fiquei sem saber se eu era de fato, ou estava cumprindo tabela como mero coadjuvante – tinha mais padrinhos do que velas no altar.
No dia do casamento, os noivos iam de charrete ou mesmo de carroça até a cidade com pelo menos duas horas de antecedência, para se “arrumarem” - principalmente a noiva. Na cidade, as noivas podiam contar com os préstimos e a competência de senhoras talhadas para este fim.
Após a cerimônia religiosa, íamos comer uma macarronada ou sanduíche de mortadela no bar da esquina, apenas para dar uma forrada, porque o jantar mesmo seria servido no sítio. Os presentes, muito simples tais como: pingüim de louça, copos, pratos, talheres, licoreira e até pinicos já que sanitário não existia, a não ser atrás da horta, ou do “chiqueiro” dos porcos. O enxoval era pacientemente preparado pelas avós e tias durante todo tempo do noivado.
O bailão acontecia no sítio e era lá que uma sanfona de oitenta baixos, um violão e um pandeiro nos esperavam. Frangos e leitoas assadas eram suficientes para amanhecermos o dia saracoteando. Na falta de homens algumas comadres se atracavam na dança - era normal. Na chegada dos noivos tinha um pequeno foguetório e os indispensáveis – viva aos noivos!
A barraca do baile era coberta de lona e os esteios eram normalmente de bambu ou eucalipto. O chão era de terra batida, e de vez em quando se fazia necessário parar a dança para molharmos o piso com um regador, pois a poeira era insuportável.
O conjunto musical ficava estrategicamente num canto da barraca em cima de um girau não muito alto. As músicas preferidas eram basicamente as sertanejas tais como: moreninha linda, cana verde, maracangalha e baião da serra grande.
E neste “batidão” a gente dançava até o sol raiar. Quanta simplicidade, pureza e solidariedade!
E VIVA O CASAMENTO NA ROÇA!
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Osvaldo Piccinin

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