08/05/2012
Maria alemoa

Como é do conhecimento de todos, a evolução tecnológica dos últimos cinqüenta anos, foi maior do que a dos últimos séculos vividos pela humanidade. Tudo muda a cada minuto e às vezes me sinto um cachorro correndo atrás do próprio rabo, quando se trata deste acelerado avanço.

 Sensação de muitas vezes achar que não faço parte desta época, sou um ser extemporâneo. Como se diz: temos que correr muito para ficarmos onde estamos, porque se pararmos nós morreremos atropelados.

Não sou tão velho assim, afinal recém entrei na melhor idade. Melhor idade? Eu heim! Creio ter tido o privilegio de assistir e viver as maiores mudanças já ocorridas na humanidade em tão pouco tempo. A evolução pela qual o mundo passou neste último século, foi e continua sendo impactante e esplendorosa. Só para citar alguns exemplos: carro, televisão, avião, computador, foguetes espiões, visita a outros planetas, movimentos musicais, clonagem de seres vivos, mais de vinte formas de se engravidar - na minha época só existia uma!  Evolução genética de plantas e animais, Viagra – esta a melhor de todas! Todas elas foram inventadas no último século ou nos últimos cinqüenta anos.

Não quero ficar divagando, vamos direto ao assunto. O que quero mesmo é falar da Dona Maria Alemoa, assim como era conhecida a parteira da família, há mais de sessenta anos.

Nossa casa, na colônia, não tinha fôrro, apenas paredes para dividir os cômodos, por isso ouvir a briga dos pais e os choros da molecada na hora de dormir era inevitável, bem como os gemidos angustiantes das pobres mulheres – mãe e tias – quando em serviço de parto. O colchão de palha de milho e o rangimento da velha cama entregavam qualquer movimento mais agitado, dos velhos pais apaixonados.

Para a gurizada, a vinda de mais um irmãozinho ou priminho, na colônia, era sinal de festa, afinal poderia ser mais um coleguinha para fazer parte da turma nas brincadeiras e traquinagens afins. Até uma aposta corria para adivinhar o sexo, pois naquela época só depois de nascer é que ficávamos sabendo.

Como criança não tem hora para nascer, o pai do futuro bebê, ficava de plantão com a charrete pronta para buscar a parteira na cidade, assim que fosse dado o primeiro sinal. ... E lá longe avistávamos na estrada empoeirada, ou enlameada, a silhueta de nossa simpática e querida Maria Alemoa, chegando, para atender mais um chamado. Quanta alegria sentíamos com sua presença!

Corríamos para abrir as duas porteiras existentes antes de se chegar à colônia. Nosso gesto de boas vindas, sempre era retribuído com um largo sorriso e umas balinhas que ela nos jogava quando passava por nós. Seus cabelos brancos em forma de rodilha ou “beirote”, como a italianada chamava, lhe conferia um ar de elegância, respeito e senhoridade.

Quando adentrava ao quarto da parturiente, com sua maletinha de instrumentos, o silencio era sepulcral e nossa ansiedade chegava ao extremo. Nosso coração parece que iria sair pela boca.

Ao primeiro choro do recém chegado vinha a pergunta, em uníssono: é homem ou mulher? Após cortar o umbigo, e ser entregue num vidro com álcool á minha avó o mesmo era enterrado em sua horta, quase que secretamente, em local ignorado pelos demais.

E assim foi por anos a fio. Todos os mais de quarenta primos, vieram ao mundo pelas mãos desta santa e bondosa senhora, que guardo com carinho em minha memória e coração!

E viva a nossa parteira Maria Alemoa!

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Osvaldo Piccinin

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