Estive recentemente fazendo minha bateria de exames de rotina, para controle de algumas patologias que a idade me presenteou.
Entre retiradas de tubinhos de sangue, xixi no potinho e agulhas ligadas a um aparelho que me dava choques (odiei essa parte), tive que entrar na máquina nessa semana.
Confesso que ao contrário de muitas pessoas que têm fobias em adentrar nesses aparelhos, eu não tenho o menor problema… Elas estão cada vez mais modernas e confortáveis e eu passo por esses exames muito bem.
Hoje fiquei surpresa quando ao me deitar para mais um desses, a enfermeira me deu um fone de ouvido e pediu-me que escolhesse alguma música que eu gostaria de ouvir. Logo me lembrei de uns dos meus cantores favoritos: Charles Aznavour. Um minuto depois, a música começou, ela ajustou o volume e iniciou o exame. Fechei meus olhos sentindo-me embalada pela voz maravilhosa do cantor e de repente alcei minhas asas de borboleta e voei… Um voo leve mas rápido e no instante seguinte eu estava aterrissando num jardim de Paris. Guardei minhas fulgurantes asas, que dessa vez estavam numa mistura de tons púrpura e rouge, talvez porque elas mudem suas cores conforme o lugar para onde viajam…
Estava frio nessa manhã em Paris e rapidamente me vi vestida com um casaco que me abraçava docemente, gorro, luvas e botas e ao ver meu reflexo num espelho, a mocinha sonhadora tinha retornado…
Feliz, sentei-me num dos cafés tão famosos de Paris e porque eu estava em jejum para fazer os exames, comi tudo o que coube no meu estômago vazio.
Paguei a conta (sempre levo a moeda local nessas viagens) e aluguei a seguir uma linda bicicleta, daquelas que tem uma cestinha na frente e que aliás estava cheias de margaridas ainda molhadas pelo orvalho da manhã.
Saí pedalando e apesar do sol que brilhava forte, eu sentia o vento frio beijar minha face que foi ficando gelada e corada numa sensação que eu adoro.
Passei rapidamente pelo Arco do Triunfo, e sendo óbvio, pensei em Napoleão Bonaparte passando por ali empunhando sua espada e comemorando mais uma vitória e também na sua Josephine que o aguardava a cada retorno triunfal… Enquanto ele foi casado com ela, mas isso é conversa pra outra hora.
Continuei meu passeio e cheguei onde mais gosto de estar quando de minhas visitas a Paris, às margens do rio Sena.
Encostei minha bicicleta e sentada numa das pontes sobre o rio, joguei uma a uma minhas margaridas numa homenagem muda para aquelas águas que murmuram para todos que ali vão, doces palavras, lembranças, sonhos…Ah, as águas do rio Sena!
Tão absorta estava, que não vi o tempo passar. De repente o sol se punha e logo após as luzes douradas da Torre Eiffel estavam acesas iluminando a cidade luz…Senti as lágrimas escorrendo na minha face… Já era hora de partir.
Percebi uma mão firme em meu ombro e uma voz que dizia: “acorda amor, o exame acabou”… E o sonho também. Voei na velocidade da luz e aterrissei dentro da máquina. Ainda deu tempo de esconder minhas asas, abri os olhos e sorri para todos…
Até qualquer hora Paris…
Selma.