Prefeitura tenta colocar em funcionamento dois depósitos, mas especialistas consideram sistema ultrapassado
Eduardo Reina
Há um ano sem aterros sanitários próprios para destinar as mais de 13 mil toneladas de lixo produzidas diariamente na capital, São Paulo corre contra o tempo para conseguir licenciar novos lixões junto aos organismos estaduais. Uma área na zona noroeste deverá abrigar um novo aterro sanitário para depósito de parte do lixo da cidade. Outra, na zona leste, está em fase mais adiantada, mas aguarda licença de instalação para início das obras.
O novo aterro em estudo, cuja localização não está sendo divulgada para evitar invasões e especulação imobiliária, fica em Perus, e está localizado ao lado da Serra da Cantareira, área de proteção ambiental. A Secretaria Municipal de Serviços informou que foram apresentadas três áreas na região administrada pela empresa Loga, na região, que passam por uma análise de viabilidade de uso e ocupação.
Mas, de acordo com o geógrafo Otávio Cabrera De Léo, cuja dissertação de mestrado tratou dos aterros paulistanos, esses equipamentos são modelos que estão com os dias contados, se nenhuma estratégia de coleta seletiva for implementada. “Na Grande São Paulo é preciso tratar a questão do lixo de forma metropolitana. Na prática, isso já acontece, pois o lixo da capital é levado para a cidade de Caieiras. Mas os municípios devem tratar esse assunto de forma consorciada.”
O novo aterro substituirá o Bandeirantes, já esgotado e com licença de funcionamento expirada desde março de 2007. “A Prefeitura recebeu os estudos pertinentes e obrigatórios por contrato. Por razões estratégicas - e para não haver especulação imobiliária -, os locais apresentados são sigilosos”, disse o presidente da Loga, Luiz Gonzaga Alves Pereira.
Esse novo lixão, com vida útil estimada de dez anos, deverá receber aproximadamente 6,5 mil toneladas por dia. Hoje, o lixo que tinha como destino o aterro Bandeirantes vai para uma área particular em Caieiras. São Paulo não tem custos sobre a operação, mas perde a médio prazo com a venda de créditos de carbono, gerados com a utilização do gás produzido no aterro e transformado em energia. Atualmente, a usina instalada no Bandeirantes gera energia para abastecer cerca de 200 mil pessoas em Perus.
A área onde deve ficar o novo aterro já teve declaração de utilidade pública decretada em 2004, na gestão da prefeita Marta Suplicy (PT). O bairro é cercado por árvores, animais são criados soltos nas ruas de terra e há por ali chácaras, fazendas e córregos. Tramita na Comissão de Análise Integrada de Projetos de Edificações e de Parcelamento do Solo (Caieps) da Secretaria de Planejamento um projeto para modificar a qualificação do zoneamento na área. Mesmo que isso ocorra, a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente ainda deverão aprovar a viabilidade do novo empreendimento.
COMPOSTAGEM
“É preciso rediscutir a política pública de resíduos sólidos na cidade. O lixo dos paulistanos vai para as cidades vizinhas. E os aterros que recebem esses resíduos terão vida útil de mais cinco anos. Queremos que a capital pense agora o que fazer nesses próximos cinco anos, para evitar o caos do lixo”, alertou José Vicente Pimenta, coordenador da campanha “Mais vida, menos lixo”. Ele sugere a criação de centrais de compostagem em todas as regiões de São Paulo para resíduos orgânicos e postos de reciclagem para resíduos secos.
Novos métodos de tratamento dos resíduos, como as usinas de compostagem, também são a sugestão de Carlos Bocuhy, do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema) e diretor do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam). “Não tem como ter (aterro) sem sacrificar algo. Ou se desmata ou se sacrifica a população de um bairro.