Se ela não voltar é porque a brisa a levou.
E levou.
Levou a amargura, a desesperança, a tristeza, a incercitude da angústia iminente .
Levou como onda do mar que varre areia de fino sal que levava, levava a vida em desapego de viver, levava a carne em fragilidade no querer, levava a alegria de já não mais saber viver.
Então vai, ela não voltará.
Já derramou demasiado pranto por assim dizer.
Já desmaio nas agruras de um desmerecer.
Então, se ela não voltar, nada perde este vão contradizer .
Contradizer de despedidas, de sentinelas marmotas do mais desmentido ser.
Diz adeus ao osso magro, ao alimento de sua frieza que contaminava seu egoísta conviver .
Que dicotomia linda ela não voltar para seu merecer.
Se ela não voltar é bênção de divina magia a renascer.
E este leve sopro toca no âmago da profundidade de seus sentimentos .
Desprovida de razões e já sem algemas o presságio do vento sutil traz a esperança de um recomeçar.
As mãos ainda feridas pelas algemas, o pescoço envelhecido pela coleira estranguladora, o corpo ainda débil pelas lutas travadas no decorrer deste século devastador lançam-se a sensação da liberdade de ser, esquecendo o passado agonizante de outrora .
Os cabelos moldam-se sutilmente ao rosto lúcido, aceitando o suave toque da noite já não entorpecida de frio congelante ou calor insuportável .
Presságios?
Simplesmente a carícia da vida.
Daniele Rotundo