Mais de um ano e meio dormindo e despertando num mar de horror.
Medo, insegurança, fragilidade.
Fomos muitos rogando ao céu, tantos outros em constantes orações em grupos ou solitários em refúgios.
Gritos uníssonos por piedade, para que a matança da Humanidade fosse detida, que o fim fosse postergado!
Pouco a pouco hauriu o sentido da vida, sonhos, liberdade, do próprio existir.
Perdas, perdas, perdas que excedem a natureza numerica.
Foram perdas dos anos vividos com todos os detalhes que a cada um cabia, cuspidas em valas, em rio.
Perdas do que não existirá, dos beijos que secaram no vazio da morte.
Perder era o que nos assustava continuamente.
Perder o respirar, o abraço de despedida, o consolo pela moléstia, o último aperto de mão.
Fosse seu ou daquele sensato a seu lado.
Haveria um respirador? Encontraria um leito de hospital? Seria entubado?
Um esforço imenso, doloroso, suado.
Para quem partiu, para quem bravamente lutava, para os heróis de frente.
E para quem ficou : as chagas de um tempo recheado de “registros de óbitos",a desinquietacao da falta de adeus, a realidade desfalcada de incontáveis irmãos que foram roubados da vida.
Neste tempo hediondo, que marcou a ferro ardente a existência desta e próximas gerações, eu não consegui escrever uma linha, meia dúzia de qualquer coisa sobre absolutamente nada.
Somente o vazio, o pânico de arruinar, a angústia de ousar pensar.
Mas hoje quebro meu silêncio .
Que vergonha estadunidenses, cidadãos americanos!
Que vergonha para você que desesperado pedia um trabalho e descaradamente sem máscara fazia o “senhor de boa fé" acreditar na sua consciência coletiva, responsabilidade com seus clientes. E logo, nem tomou uma “pinche” (ultrajo mexicano) picada.
Que vergonha diante tantos cientistas que bravamente estudaram em tempo surreal uma vacina, pelos que aceitaram testá-las , pelos que abriram mão de suas famílias, para salvarem outras, nossos heróis da linha de frente.
Onde vivo, na cidade de Houston, Estado Texano, nos últimos 30 dias, fomos surpreendidos pelo elevado número de novos casos: 5.500 atingindo com ênfase crianças e adolescentes.
O Estado do Texas, nos últimos 30 dias teve 19.479 novos casos.
EUA, nos últimos 30 dias: 280.403 novos casos.
Houston está no nível 1, o que aqui significa, sinal vermelho : “Se você não está totalmente vacinado (no caso de 2 doses), fique em sua casa”.
E este avanço dos números justamente no início do ano escolar 2021 / 2022 ( aqui o começo do ano escolar é em agosto).
O que está acontecendo?
Variantes do vírus, que como os meios de comunicação no Brasil explicam: é mais transmissível.
Tambem.
Então, semana passada inafortunadamente eu recebi de uma pessoa inteligentíssima um vídeo de um médico (ele disse ser médico) que foi uma chuva de despautérios.
Regra minha : não abro, comparto, nem vendo vídeos de conteúdo apocalíptico.
Tenho ciência do que ocorre no mundo (lamentavelmente).
Minha mãe ficou muito doente logo no começo da pandemia e tínhamos certeza que não conseguiria recuperar se. Mas ela conseguiu!
Meu filho de 25 anos, ex fumante, residente no México, também se contaminou e seu estado era delicadissimo. Recuperado.
Minha irmã, com doenças auto imunes também!
Não acredito que eu, uma cidadã qualquer, deva assustar mais com estatísticas, dados, histórias que em nada ajudaram tantas e tantas pessoas profundamente sensibilizadas pela pandemia.
E é aqui que começa minha repugnância: no país desenvolvido, o número de imbecis é incalculável.
Sem dúvida alguma a variante Delta aumentou o número de casos.
Mas sabe por que?
Porque aqui uma grande parcela da população é contra a vacinação.
Tenho vontade de chorar e cuspir na cara de quem passa sem máscara ao meu lado.
Pasmem: em Houston dia 7 de Agosto foi anunciado um incentivo para quem comparecesse à vacinação, entre $100 e $150.
Perfeito o resultado.
No primeiro dia foram 914 indivíduos a tomarem a PRIMEIRA DOSE.
No dia seguinte o número de indivíduos que receberam a PRIMEIRA DOSE foi 1596.
O detalhe importante: três semanas antes do anúncio do incentivo, o número de doses aplicadas era 431.
O que vocês acham? Legal o método para vacinar uma área que representa 16% da população do Estado do Texas, isto significa o lugar mais populoso do Texas é esta em 3 lugar mais populoso dos EUA (inteirinho)?
Comemoramos os 47,3% de texanos completamente vacinados é os 57% que possuem apenas uma dose?
Me digam voces?
Que palhaçada! Tem gente morrendo sem vacina enquanto uns desmiolados jogam a sorte em uma pandemia.
EUA foi um dos primeiros países a terem acesso à vacinação sem miséria, no planeta Terra.
Quando tomei a vacina, minha mãe estava muito longe da 1 dose.
E sinceramente, não tinha coragem de contar. Um embaraço saber que o Brasil estava (está) depressivo, sem expectativas.
É um sentimento de injustiça ver os gigantes e as formigas, não é?
O Brasil com tanta experiência em vacinação estava atravessando um momento dramático, sem data de "começo do fim”.
Muito grata ao avanço da vacinação no Brasil.
E a pergunta é : por que apenas 47.3% de texanos estão vacinados (completo)?
Porque a outra parte faltante é antivacina!
“Pero no mucho”! Se tem dinheiro envolvido…
Melhor que tomem pelo incentivo financeiro do que não tomem, certo?
Mas que decadente mentalidade arcaica!
Desde o início da vacinação houve um incentivo material de algum tipo nos EUA.
Para mim isto indicava que não seria fácil convencer boa parcela das “gentes”.
“ Olha a vacina!!!! Quem vai querer? Ta novinha, tem um adesivo especial e você ainda leva um vale-donuts por um mês!"
“Olha a vacina, seu Zé, vai querer não? Ahhh seu Zé, tá fresquinha, já foi testada num bando de gente, pode escolher quem aplica e ainda leva vale-cerveja !”
Nem é brincadeira.
Enquanto o Brasil lutava pelo direito às vacinas, aqui escolhia-se qual vacina tomar.
Para vocês compreenderem ainda mais: estive viajando de carro pelos EUA (trabalho e lazer) e por vários locais na Times Square um anúncio piscava: “ não importa seu status imigratório, tome a vacina”.
Supermercados, farmácias, lojas, clínicas, etc em todo lugar é possível entrar e tomar a vacina!
E não tomam por que?
Volto a cidade de Houston e Estado do Texas.
Tem um “adendo pequenino” neste estado.
O governador Greg Abbott, “colaborador” do ex-presidente dos EUA, é anti-máscara, é até há poucos meses, anti-vacina.
Ele foi um dos primeiros a determinar a reabertura das atividades normais.
E mesmo com as últimas recomendações do CDC (Centro de Controle de Doenças) de que se retomasse o uso de máscaras em locais fechados, Abott aboliu o uso das máscaras no estado.
Em cínicos trocadilhos: a vacinação é o “mais seguro para vencer a pandemia” e que no Texas a vacinação será “sempre voluntária".
Fala e não fala . Qual o outro meio de vencer a pandemia que ele conhece?
Deixou claro que não haverá paralisações no Texas impostas pelo governo ou mandatos de uso de máscaras"
Entenderam a mensagem?
O Presidente americano Biden num apelo emocionado pediu que aqueles que não estavam dispostos a ajudar, ao menos saiam da frente para que outros possam fazer o que é correto.
Há várias demandas judiciais por conta dos “mandatos” do Governador.
Greg Abbott num empolgado pronunciamento garantiu que as crianças regressaram às escolas sem necessidade de máscaras ou comprovação de vacinação dos funcionários.
Que desfavor!
Pais apoiadores de Greg saíram pelas ruas com cartazes enfurecidos, lutando pelo direito de não usar máscaras.
É serio?
O papelão chegou até as vias de fato em alguns lugares, onde pais arrancaram máscara de professores.
Um ponto alto aqui no tocante às instituições escolares que estão sob a égide do chamado “distrito escolar”, é que realmente o bem estar, a saúde dos estudantes e funcionários, é prioridade.
Mesmo o Governador tendo banido o uso de máscara nas escolas, e ele foi claro quanto às escolas, porque já havia um movimento de ruptura, os distritos escolares seguem lutando judicialmente e as escolas obrigam o uso de máscaras!
O povo não engole a seco algo que não quer, muito menos decisões que erguem várias bandeiras.
Merece aplauso!
Parece existir uma luta de braços travada.
Se não estiver com máscara, não entra!
Enquanto os hospitais estão lotados, ele brinca de “ quem manda sou eu”!
Houston é o lugar top para estudar o que se imagina!
Tem astronauta aqui comandando nave no espaço como pode isto?
Os EUA aboliu algumas doenças há tempos e teme vacinas?
Conclusão.
EUA vive uma onda dramática, amoral, destruidora: a da IGNORÂNCIA fajuta, (aquela forjada nos pilares de interesses escusos), e infelizmente o Estado do Texas, está dando chicotada em carne viva.
Parabéns Greg Abott!
Optaram pela “ não vacinação, não máscaras'' e por um governador atormentado que passa o tempo rascunhando enxurradas de descompromisso, desserviço, regras de fétidas brincadeiras com seus cabritinhos obedientes e bem armados (agora é permitido usar arma pelas ruas como enfeite de natal).
Abbott está em “campanha” para as próximas eleições, e fala o que seu eleitorado quer ouvir, como a maioria quase avassaladora. O que está por trás disso vem de anos numa luta política de extremos. Uma batalha de fracos mas infelizmente por vezes vencedores nas disputas apertadas dos últimos eventos eleitorais.
Fulaninho não gosta de X.
Beltraninho, do mesmo partido, entende que para seguir nas urnas precisa dizer que X não é bom também.
Isto vem quebrando a sociedade em divisões totalmente incabíveis a ponto de ferir a existência do senso comum do que é importante ou não.
Não generalizo. Obviamente que estas nuances são discretíssimas em se tratando de assuntos tão delicados.
Mas no cerne da sociedade que nos encontramos sob jurisdição, no meu caso Houston / Texas, à medida que os holofotes vão queimando e aparecem as manchas pelas paredes da sala do palco do teatro, fica bem demarcado a diferença do vermelho e azul.
Assim, é o JOÃO BOBO do Texas.
O problema americano não está na falta de vacinas, na insuficiência de verbas, na logística, no desamparo de instituições sérias.
Escrevi este texto tanto na intenção de explicar mais de perto o que acontece aqui e para esclarecer que um cargo público, político em qualquer lugar do mundo representará também as crenças, a educação, os valores de um povo!
O que se chama hoje de direito à liberdade vai até onde?
Há este direito em casos extremos como o que vivemos e seguimos, numa pandemia?
Da para a Humanidade recuperar-se num panorama de tantas desigualdades?
Sim, estou chateada!
Os primeiros, aqueles que estiveram como escudo para o resto do mundo foram pessoas com uma idade “avancada”, nossos idosos.
Morreram aos montes, sozinhos.
Agora a consequência da bestialidade humana ataca paulatinamente a parte da sociedade totalmente dependente de seus maiores (cegados pela famosa cortina de fumaca ).
E esta luta não pode ter sido em vão.
Temos vacina, tomem, por favor!
Daniele de Cassia Rotundo