Sua alma congelou!
Todas suas existências pararam diante o gigantesco iceberg que a arrebatou sem divagações sobre sua continuidade em vida-morta ou vida-viva.
Sentiu o frio cortante dividindo seu corpo em inúmeros fragmentos, seus sonhos quebravam-se com máculas de podre.
A revolta preponderou!
Seu guardião Thorn enebriado de fúria, pulou de Júpiter e esbravejou sua chegada com o peso de seu martelo ensurdecedor na forma de uma estrondosa chuva de granizos. Pedras de gelo golpeavam sem pausa todo o espaço em que seu corpo definhava. Os gritos da água condensada ecoavam.
Num trote marcado para a guerra marcharam as Valquírias, sem saber se recolheriam os destroços de uma guerreira ou assistiriam a derrocada da batalha inevitável.
O Senhor da morte acercou-se com seu barco, em prontidão para atravessar-lá ao umbral, já que seu fim parecia iminente!
Num ato de loucura desmedida,ela arrancou a pele de seu próprio corpo! Não daria ao inescrupuloso orgulho maldito a oportunidade de despelar-lá! Não regalaria este prazer de ato tortuoso e perverso a seu verdugo.
Trépido gelo, derrubou-a e destruiu todos os caminhos semeados por suas flores campestres e espinhos rúdicos.
Quitou sua vontade de levantar e fez fria sua voz diante sua indescrítivel falta de paixão pelo que seja, seria ou poderia ter sido!
Estilhaçou iracundo sua imoral transbordante de seu corpo duro e mau amado, como um inimigo que chega pelas costas e arranca o coração pulsante daquele que esteve a sua esquerda, perto de seu peito, angariando forças para seus supostos planos de benevolência, quando o alvo era a mão amiga que desenhou as linhas para sua vitória!
Agora, tem as mãos ensanguentadas com o músculo morto, pela vingança ultrajante devoradora da dita vida simplória de sua amiga de outrora!
Que fará cruel algoz? Ficará com este pedaço de carne apodrecendo entre seus dedos estragados ?
Não bastasse sua falsa verdade, agora gela como Isis a tudo que vê.
Felicidades decrépido traiçoeiro!
Ganhou a ruína e fez noite na floresta encantada deste ser, que doou a coroa de seus magos e fez de seu tesouro fétido, por suas conquistas roubadas, um jardim de fadas e borboletas.
Acabou sua bem-vinda no mundo confuso de passionalidade mas magia suprema pela vida, ainda a ser explorada e conquistada!
Não se iluda destino asqueroso, será tragado sem dó ou piedade, no mesmo instante em que ela levantar, porque sua essência é fogo que queima e seu gelo só nutrirá as chamas fracas e a transformará na maior labareda viva que não imaginaria em milênios de existência ao seu lado.
Cuide-se bem querido ser rastejante destilador de veneno barato! Não sabe o tamanho das águas que ela pode mover para se reerguer deste tombo surreal que ousou planejar dolosamente.
Tenha cuidado com sua sombra, amado desgosto vivo! Ela conquistará sua paixão acabada e deformada e mostrará o espelho ao seu lado obscuro, e sem pestanejar levará com ela esta amiga sua que ainda reluz seu corpo no chão frio por onde pisa, e nada mais te restará senão seguir vagando des-sombrado!
Destino, achou que seria engraçado jogar pedras nesta fortaleza?
Suas asas são grandes e mesmo com pernas quebradas e seu caminho destruído nada impedirá seu vôo altaneiro! Ela é vento! Vento que faz tempestade e tornados destroçando e derretendo esta enorme carcaça gotejante atascada em seu espaço!
Adeus Valquírias, ela ficará! Esta guerra não terminou! Honrará sua espécie e descongelará sua alma desta crostra repugnante!
Senhor da Morte, desista, recolha seu barco, o inferno não é seu destino!
Levante-se, você!
Levante-se e corra desta fênix que despertou!
Não há saída temporária para observá-la reerguer cada pequena fração de molécula castigada por seu amargor.
Alquiminizará seu olor fétido em ouro, deixará os quatro cantos de seu mundo de fadas mais perfumado que um cálice de bálsamo divino consagrado pelos lírios dos deuses.
Assim, você sentirá seu corpo vivo novamente e consequentemente e todos os entes, e saberá no seu leito eterno de fracassos, o tamanho deste pingo de nada que hoje a reduziu.
A você que vê seus pedaços necrosando por tamanho desleixo desta rocha flotante, não se espante, ela está viva em pedaços, sorria!
Será mais forte e renderá vassalagem ao fatídico dia em que a aventou ao solo escorregadio e petrificado. Sim! Obrigada destino subalterno ao querer profano deste alguém que ensinou-o o significado do desamor!
Disto, renascerá!
Colérico devoto da crueldade, congelou sua alma mas não sua consciência!
Ela levanta!
Corre basbaque! As estrelas são seu destino final!
Daniele de Cássia Rotundo