Reposição de testosterona é para todo mundo? Entenda quando ela é indicada e os riscos do uso sem recomendação
A reposição de testosterona, quando bem indicada, pode melhorar muito a qualidade de vida da pessoa. Mas não faz sentido repor um hormônio se ele não está em falta.
Por Mariana Garcia, g1
Apesar das contraindicações, homem faz o uso de aplicações de testosterona, principal hormônio sexual masculino — Foto: Profissão Repórter/Arquivo
Conhecida como o principal hormônio sexual masculino, a testosterona desempenha um papel importante em funções que vão além da reprodução, influenciando aspectos como força muscular, densidade óssea, energia e humor.
Mas quando a reposição é mesmo necessária? Ela é para todo mundo? Quais os riscos? O uso abusivo do hormônio (e sem recomendação) pode levar a problemas cardíacos, problemas hepáticos e efeitos masculinizantes em mulheres.
"A testosterona é responsável pelo desenvolvimento das características sexuais: o desenvolvimento do pênis, os pelos, o desenvolvimento da massa muscular. Ela também tem ação no sistema ósseo, garante a libido masculino, ajuda na parte metabólica", explica a endocrinologista Karen de Marca, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM).
Embora em níveis muito mais baixos, a testosterona também é importante para as mulheres, sendo produzida principalmente nos ovários e nas glândulas adrenais. O hormônio pode contribuir para a libido, saúde óssea, energia e humor.
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Quem precisa de reposição de testosterona?
A reposição de testosterona não é para todo mundo. Ela só é indicada em casos muito específicos.
Em mulheres com diagnóstico de desejo sexual hipoativo (DSH), distúrbio sexual que se caracteriza por uma diminuição ou cessação do desejo sexual por mais de seis meses.
Em homens com hipogonadismo, uma condição na qual o corpo não produz testosterona suficiente devido a problemas nos testículos ou glândula pituitária, ou homens com alguma síndrome genética que afeta a produção de testosterona.
O diagnóstico deve ser feito com base em exames clínicos e laboratoriais. Entre os sinais que podem indicar baixa testosterona estão fadiga, perda de libido, dificuldades de concentração, perda de massa muscular e alterações de humor.
E para exercício físico? Os especialistas lembram que não há indicação para reposição de testosterona visando o vigor físico ou a estética. Lembrando que os chamados "chips da beleza" são proibidos no Brasil.
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As mulheres e a testosterona
Nas mulheres, a reposição ocorre quando há o diagnóstico de desejo sexual hipoativo (baixa da libido). Geralmente, esse distúrbio surge na pós-menopausa ou em mulheres com insuficiência ovariana prematura.
Só que nem sempre esse distúrbio está ligado a parte hormonal. A falta de libido pode estar relacionada com o emocional, por exemplo. Se, após a avalição com um profissional, ficar comprovado que a falta de testosterona é a "culpada" pela disfunção, daí sim o profissional pode indicar a reposição.
"A indicação não está relacionada com dosagem, o diagnóstico não se baseia em testes de concentração hormonal. As mulheres já têm a testosterona baixa. Usamos a dosagem para ver se não há excesso do hormônio", alerta José Maria Soares Júnior, presidente da Comissão Nacional Especializada em Ginecologia Endócrina da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo).
O excesso de testosterona pode gerar efeitos colaterais como acne, crescimento de pelos, aumento do clitóris e engrossamento da voz.
Karen de Marca lembra que estar na menopausa não é sinônimo de repor testosterona, já que o principal hormônio sexual feminino é o estrogênio.
"Se a mulher está com a função sexual muito prejudicada, não pensa em sexo, não tem vontade, se masturba e não sente nada, não responde aos estímulos, ela pode ter o diagnóstico de DSH. Podemos prescrever e observar se impactou positivamente. Se não funcionou, iremos procurar outros tratamentos", diz a endocrinologista.
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Quem pode fazer reposição hormonal?
Os homens e a testosterona
A reposição é indicada para homens que têm uma condição chamada hipogonadismo, em que o corpo não consegue produzir testosterona suficiente por conta própria. Esse diagnóstico é feito com base em exames de sangue que confirmam níveis consistentemente baixos de testosterona, combinados com sintomas que afetam o bem-estar.
Luiz Otávio Torres, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), explica que a testosterona é importante na puberdade, quando ocorre o desenvolvimento sexual masculino, com aumento do pênis, o surgimento de pelos e o funcionamento dos testículos. Se o profissional identifica que o adolescente está com baixa produção do hormônio, a reposição é indicada nessa fase.
A queda gradual da testosterona com a idade é algo comum, mas nem sempre exige reposição. A reposição só é feita depois de um diagnóstico combinado: clínico e laboratorial. O indivíduo precisa estar com os níveis de testosterona baixos e ter sintomas, como diminuição de desejo, cansaço, fadiga, irritabilidade.
"Se o paciente estiver com a testosterona baixa, mas sem sintomas, não indicamos a reposição. Também não indicamos se ele estiver com os sintomas, mas com a testosterona normal. Agora, se ele tem os sintomas e o hormônio está baixo, aí começamos a pensar na reposição", explica o urologista.
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Os riscos da reposição sem indicação
A reposição de testosterona, quando bem indicada, pode melhorar muito a qualidade de vida da pessoa. Mas não faz sentido repor um hormônio se ele não está em falta.
Nas mulheres, a reposição sem acompanhamento pode trazer uma série de riscos, como a masculinização (engrossamento da voz e aumento de pelos faciais), além de elevação dos níveis de colesterol e alterações no humor.
"Pode ocorrer uma mudança no perfil lipídico, com a queda do HDL (colesterol bom) e aumento do LDL (colesterol ruim). Percebemos também a ocorrência de arritmias. A testosterona estimula os glóbulos vermelhos, podendo levar ao amento de risco de trombose e AVC isquêmico. O hormônio em excesso provoca alterações comportamentais em geral", alerta Karen de Marca.
Nos homens, o excesso de testosterona está ligado a problemas cardiovasculares, infertilidade e até crescimento da próstata. Portanto, só deve ser realizada quando os benefícios para a saúde superam os riscos e sempre com orientação.