1983, ano de mudança radical, saindo com certeza de modo definitivo, dos trilhos da antiga maquininha da linha da Companhia Melhoramentos que ligava a Fábrica de Papel com o resto do mundo. Era o ponto de partida, a primeira etapa rumo a Aventura . Saindo da Vila Nova, atravessando a ponte de madeira, a ponte de cimento, embarcando no bondinho com bancos de madeira, esperando com certo temor as curvas e admirando a paisagem dessa mata que nao sabia tropical, cheia de cipós e muito úmida . Adorava quando chegando na curva, podia admirar o rio que mais de cinquenta anos atrás não era poluído, coberto de flores aquáticas lindas, azuis, das quais não me lembro do nome.
O segundo ponto interessante do trajeto, meio misterioso, era o velho cemitério. Nunca tive curiosidade de me aproximar... A admiração aumentava na Rua dos Coqueiros com as casas cheias de flores. Ponto final, a estação, pegando o trem para Franco da Rocha, para frequentar o ginásio. Um pouco mais tarde, até Pirituba, e em seguida um ônibus até chegar na Vila Anastácio para o Colégio, Curso Clássico, estudando línguas estrangeiras e todas as outras matérias que ilustravam o saber e iluminavam os sonhos, como História Geral, descobrindo por exemplo, o Antigo Egito, que visitei anos mais tarde. Faz tanto tempo que até estudei Latim e usei uniforme.
Mais além, até São Paulo, na famosa estação da Luz obra dos ingleses. Meu pai ainda dizia "a SPR", mas acho que não sabia o que essas letras significavam, São Paulo Railway. Eu, na época, ainda não conhecia o Big Ben que inspirou o relógio que indicava as horas em algarismos romanos, como o original que pela sua majestade representa sozinho a imponente cidade de Londres.
São Paulo, a capital, a Universidade , sem dúvida os melhores anos da vida de uma estudante. Portas abertas, largos horizontes, montanhas a escalar. Muros a circundar ou ver destruídos como aquele abominável muro de Berlim que separava a cidade e os seres humanos em leste e oeste. Continuando a viagem, uma vez ultrapassados os controles de passaporte , bilhete de avião e pesadas as malas as asas da saudosa Varig me transportaram até o Velho Continente.
Aeroporto de Roissy Charles de Gaulle que já tinha atravessado em julho de 1981, ocasião da primeira viagem aérea, destinação Paris, com extensões para Itália , Inglaterra, Escócia, Dinamarca e Suécia. Londres foi especial. Cheguei no dia do casamento de Charles e Diana. Felizmente o meu foi e continua sendo mais feliz do que o deles, princesa e príncipe . Ele agora já é o Rei Charles... Quem pensaria que a eterna Rainha Elizabeth morreria um dia. Aqui existe um ditado das velhas monarquias: o rei está morto, viva o rei!
Voltando às estações do ano que organizam a vida dos seres humanos no planeta terra, curiosamente, por ter nascido no hemisfério sul no mês de outubro, estávamos na primavera. Vem daí uma espécie de paixão incontrolável por flores. Contrariamente, no hemisfério norte, era o outono, quando as folhas das árvores perdem o verde e ganham o dourado, caindo pelo chão sendo erroneamente chamadas de folhas mortas, pois continuam alimentando a vida do solo que cobrem.
Continua
Edna Gabrielli