Por que temos dificuldades em aceitar realidades óbvias?
Por que sofremos por motivação lógica?
Por que a racionalidade é desconcertante quando o emocional está envolvido?
É possível enumerar diversas situações em que todos nós seremos submetidos e a racionalidade é bem específica, óbvia, porém desconcertante no tocante emocional. Vou utilizar dois exemplos bem representativos...
Todos têm alguma desilusão amorosa na vida. Bom, pelo menos aqueles que tentaram ter um relacionamento tiveram que passar, de alguma forma, por uma desilusão, que pode ter diferentes níveis. Somos pessoas diferentes, embora da mesma espécie, vivendo em uma mesma sociedade, sobre os mesmos riscos e escolhas, mas, somos diferentes... e não estou falando em gênero!!! Logicamente existem divergências que muitas vezes causam decepções, mas algumas são mais fortes e geram uma desilusão irreparável. Mas, quando paramos para observar com atenção, é possível perceber que sempre tivemos as respostas antes de formular as questões cruciais, mas ainda assim, sofremos!!!
Quem não perdeu algum ente querido? Caso negativo, com certeza ainda perderá!!! É uma realidade incontestável, mas ainda assim, mesmo sabendo do óbvio, ou seja, temos tempo limitado de vida, sofremos com a perda. Esta racionalidade óbvia é muitas vezes colocada de lado para evitarmos “sofrer” antecipadamente, ou vivermos descontroladamente acreditando apenas no hoje. Concordo, de certa forma, que esta “fuga” é relativamente ponderada, compreensível e beira a obviedade, porém não irá alterar a razão do infortúnio. Muitos dizem que é uma questão de aceitação da realidade, outros dizem que são questões relacionadas com nossa incapacidade de evitar algo que não desejamos, mas qual é a verdade concreta? A razão é clara e evidente... por que não aceitamos o lógico? Por que nos sentimos fracassados, se não podemos impedir o fato lógico, concreto e não perpetuável? Por que o peito dói, o ar se escassa e as lágrimas queimam nossos rostos quando o inevitável acontece?
Por que? Por que a razão é desconcertante e tão pouco amigável com nosso lado sentimental? Sempre ocorre um duelo entre razão e emoção, onde geralmente nos sabotamos através da esperança que a razão não prevalecerá... mas no final, ela cobra sua existência e nos coloca sentados num canto escuro, acuados por não compreender o que realmente definimos, ainda que seja óbvio e lógico. Alguns pensadores falam na subjetividade da razão sobre a tendência emotiva da dor, filósofos buscaram explicar o sentimento sem a racionalidade e se tornaram, no máximo, bons poetas ou celibatários das mensagens mentirosas que todos desejam escutar em vez de racionalizar, mas sejamos justos, ainda são melhores que coaching. O tal “equilíbrio” tão invocado pelos mais brandos é tão utópico quanto a não concretização da razão existencial. Fuga, realidade, existência, dor, razão, sentimento, tudo em níveis desconcertantes e variáveis como a probabilidade de conseguirmos compreender cada um destes “fatores” sem considerar a dependência que possuem! A interação destes é desagradável e pouco conclusiva, seja racionalmente ou pela emoção... talvez não compreendemos o que realmente deve ser considerado, ou em que quantidade e forma... Milhares de anos de evolução e ainda sofremos com as mesmas causas... como o processo evolutivo nos permitiu perpetuar com tal fraqueza psicossomática?
Não, não é um texto reflexivo por essência, não é um desabafo desolado, nem mesmo uma tentativa de buscar o caminho certo pela tão valiosa racionalidade. Considero a esperança vital sim, mas a razão ainda persiste como uma criança fazendo birra por algo que deseja, mas que seus pais negaram. É... talvez seja exatamente isso!!! Somos crianças e ainda não compreendemos tudo o que sentimos e pensamos, muito menos como estes importantes “fatores” de nossa vida estão conectados. Será que em algum momento teremos esta compreensão? Será que seremos seres guiados pela “luz do amor” ou “racionais impulsivos”? Seja como for, esta realidade ainda nos choca quando tentamos compreende-la. E mesmo sem uma resposta, a ideia de dualidade me parece a menos provável!!! Sintam a racionalidade sem sua desconstrução emocional da forma que for conveniente, pois só um hipócrita poderá julgá-los por suas razões.
Matheus Rotundo