Crônica: Abstrato

Tenho medo do amanhã, de acordar e não saber como será o dia. Se hei de chorar, se hei de sorrir ou se estarei viva ao findar do mesmo. Nunca estive em completa dúvida como estou. Minha opinião se fragmentou, à respeito de tudo, de todos, inclusive até de mim. As idéias não se encontram na minha mente, não sei o que pensar, quando pensar e como pensar. Meus pensamentos estão flutuantes, não há nada de concreto em minha mente e diante desta situação, sinto-me de mãos atadas a tomar qualquer tipo de decisão e dessa forma minha vida se atrasa. Ele deveria estar aqui neste momento, pois diante da situação que se passa, ele nunca haveria de me abandonar, seria incapaz de ver-me chorar e permanecer indiferente. Mas ele não está aqui e infelizmente não posso ir ao seu encontro, pois isso não é politicamente correto e falta-me recursos psicológicos para tal. Mas esse dia há de chegar, não sei quando, não sei se será dia de sol, chuva ou neve, sei que não vou insistir que a vida me pregue peças diariamente e continuar aceitando. A única coisa que me restou neste momento foram estes caractéres, mal escritos e difíceis de serem interpretados que me servem como amigos, como companhia e como uma espécie de bode espiatório. Não existe motivo algum que me alegre, que me faça sentir motivada para viver. Sinto falta de muitas pessoas, de muitas coisas, de vários momentos os quais não voltariam jamais. Deveria aproveitar este momento para conseguir amadurecer idéias e aspectos que o tempo encarregou-se de ensinar. A questão é de que o tempo não espera, ele não foi feito pra mim, para que entendesse suas mazelas. Tudo passa na minha mente como um filme, sem final, sem início, apenas com um ponto de partida que não sei quando foi. Músicas as quais eu ouvia, que trilharam tantos instantes de inúmeras reações corpóreas soam nos meus ouvidos, convidando-me a voltar no passado e reviver tudo de novo. Se pudesse voltar no tempo, muitas coisas gostaria de corrigir, porém muitas gostaria de errar também, para ter um gosto mais prazeroso e independente. Não posso deixar que daqui alguns anos eu esteja pensando e agindo como agora. Para tal, devo aproveitar cada minuto da minha vida, para que não me arrependa de coisas ruins ou sinta falta das coisas boas, pois anseio construir um caminho para que minha vida se concretize de tal forma que o presente será bem lembrado e principalmente, bem vivido, com pessoas adequadas, escolhidas ou selecionadoras e em lugares paradisíacos, para que nada possa voltar a ser abstrato.

Paula Oliveira

Leia outras matérias desta seção
 » Camões carente
 » Homenagem aos atletas e aos Jogos Regionais
 » Crônica: Abstrato
 » Crônica: Aleatoriamente Amor
 » Crônica: Ilusão
 » Crônica: Anseio
 » Crônica: O tempo do próprio tempo
 » Crônica: Obrigada
 » Crônica: Inexplicavelmente Real
 » Crônica: O Crime não compensa
 » Crônica: Almeida
 » Crônica: A Volta do Almeida
 » Fé no Brasil
 » País emburrecido
 » Dicionário
 » Eco da Vida
 » Curiosidades acontecidas
 » Brasil e o mundo podem prejudicar a sua saúde
 » Frases
 » A vida hoje

Voltar