Fico me perguntando qual seria a impressão de cidadão acostumado a uma
jornada diária da ordem de dez a doze horas de trabalho, acrescidas de mais
duas ou três horas perdidas no deslocamento, que percebe remuneração de alguns salários mínimos, enquanto o envolvimento de governantes com contraventores do jogo, tratando de imóveis da ordem de alguns milhões reais como se fosse a mais simples casinha adquirida com esforço de anos. Tem também os empréstimos de centenas de milhares de reais e outras moedas como se tratasse da operação mais cotidiana, ainda que o credor não fosse  averiguado pela prática criminosa. Imagino que indignação, pertinente uma vez que os governantes são na verdade nossos mandatários, ou seja administram o país nos representando, e em nosso nome. Pior ainda, penso ,também que o magistério mais eficaz não seja aquele dos grandes discursos,mas o da exemplificação, de sorte que, na contra-mão de uma tentativa de moralizar-se a administração pública e o próprio estado brasileiro, acabe
subvertida por meia dúzia de criminosos investidos de função pública. Aliás, ninguém nos ouça, há muito tempo venho comparando a periculosidade do criminoso ordinário, do ordinário criminoso... este último, ao invés do revólver utilizado pelo primeiro, se dissimula em seu ternos caríssimos, gravatas de grife e camisas exclusivas, e muito pior, ao invés de despertar
um sentimento de repulsa, desperta, pelos mecanismos do dissimulado orgulho,próprio da espécie humana, ainda, aquela curiosidade preocupante, sugestiva de que talvez crime seja um caminho a se considerar...