Certa tarde o garoto chega em casa e aguarda pelo pai para auxiliá-lo nas tarefas escolares. Aliás, já há muito tempo não contava com sua ajuda, um renomado advogado, muito bem sucedido. Como a tarefa dizia respeito à escolha de um curso superior, esperou-o pacientemente. Tendo o respeitável doutor chegado, após mais um dia em seu escritório, começou a ser interrogado pelo menino a respeito de sua formatura na faculdade de direito ao que, impacientemente, lhe relatava as experiências vivenciadas, o resultado de sua dedicação, que lhes possibilitava vida muito confortável, observe-se. O garoto ouviu a narrativa do pai, e perguntou se saberia orientá-lo com uma pesquisa já iniciada, na qual copiara um trecho de um conhecido discurso de formatura, do curso de medicina, que um certo Dr. Bezerra teria proferido se referindo à necessária dedicação do profissional: "Um médico não tem o direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito qualquer lhe bate à porta". Aquelas palavras por uma razão não muito compreendida pelo jurista lhe principiaram lágrimas insistentes. Na verdade se dera conta de que seus ideais haviam se convertido, como sugerira o velho médico, em dividendos de sua formatura. Não fora o pai quem o auxiliara, mas sim o jovem que reacendera a cálida chama da justiça naquele experimentado profissional. Não sejamos mercadores de nossas convicções, tampouco corretores de nossos tesouros... pelo menos dos importantes. Jamais.