A lágrima escorre no olho de alguém que chora silencioso no corredor de um hospital. Poderia ser de uma mãe à beira do desespero, vendo o filho querido desfalecido sobre um leito, já sem esperança de retorno. Poderia ser de um pai inconformado com os trilhos do destino, a lhe roubar a felicidade do convívio com filha amada. A esposa dedicada que não mais poderá abraçar seu companheiro ao final de um longo dia de trabalho. Não. Na verdade essa pequena reflexão traz uma segunda chance, graças àqueles que acreditaram na possibilidade de ajudar seu semelhante por meio da doação de órgãos, permitindo uma segunda chance à vida, à felicidade. Quantas lágrimas não escorreram nos rostos de pessoas que puderam ver no fim de uma história, muitas vezes encerrada a custo de dor, de tristeza, o retorno de parentes queridos à rotina do dia a dia, à saúde antes comprometida. Nos últimos dias, no bairro do Morumbi, capital paulista, no Hospital Israelita Albert Einstein, após extensa cirurgia, foi concluída a primeira operação de transplante multivisceral no Brasil, na qual nossos médicos, após dezesseis horas de trabalho, conseguiram transplantar, em uma intervenção, o pâncreas, fígado, estômago, duodeno e intestino delgado, trazendo novo lume de vida a uma senhora de 59 anos de idade, vitimada por uma cirrose. A ciência traz novas possibilidades à vida. Antes, a caridade seja praticada, até por meio de doadores de órgãos, como elemento essencial da existência humana. Aliás, alguém já teria dito isso ... Há dois mil e poucos anos...