Não é novidade que as condições climáticas cada vez mas severas batem à nossa porta, nos trazendo dias de calor intenso, chuvas torrenciais, vendavais, ressacas marítimas. Novos desafios são impostos a aos administradores públicos, que se vêem às voltas com desastres e tragédias, que aliás muitas vezes poderiam ser ao menos abrandadas, sendo necessárias providências imediatas, improrrogáveis, e muito desejável, fossem também amparados pela sensibilidade que o homem público deve aguçar, para compreender e respeitar a dor e as dificuldades alheias. Não podemos perder de vista a essência de um Estado, que sob pena de deitar-se ausente, abrindo lacunas de ordem, que por vezes são preenchidas por indivíduos não tão bem intencionados. Quanto mais dependente a comunidade, tão mais grave se acentua a questão. Para compreendermos esse raciocínio, basta que voltemos nossos olhos à realidade vivenciada pelos morros fluminenses, desde há décadas até poucos meses.
Há um documento, do qual todos nós somos autores, porquanto tenhamos eleito um congresso para tanto, chamado Constituição da República Federativa do Brasil, que determina a satisfação das elementares do povo, por um Estado presente, e mais, passível de responsabilização, penal, financeira e administrativamente, em caso de suas omissões e excessos. O administrador público tem consciência determinada pela lei, e só por ela, se pautando sua liberdade dentro dos limites por ela estabelecidos. Nesse contexto, até para os mais minimalistas, situam-se segurança, saúde, educação, abastecimento (água, luz, comunicação), saneamento básico e urbanização.
É exatamente nesse ponto que as ações públicas devem ser eficientes e pontuais para que haja isonomia, equilíbrio, e principalmente, respeito à dignidade humana na manutenção desses direitos. Por outro lado, é fundamental, é imprescindível, é urgente, indispensável, indeclinável, que nós compreendamos que fatores alheios também podem influenciar nas eventuais falhas, o que não tira a responsabilidade deste ou daquele no processo de fornecimento. E o nosso grito de protesto, ou muitas vezes até mesmo de socorro, deve ser objetivo, respeitando a mesma lei que determina a atenção do Estado, que agora nos prescreve o velho princípio de que o meu direito, vai até onde começa o direito do próximo.
Bem por isso que é preciso repensar as cidades, seu desenvolvimento e o nosso conceito de progresso. Já percebemos que o limite da natureza não comporta desrespeito. Já tivemos oportunidade de observar que catástrofes decorrem de nossas ações, e jamais de um senso de descuido de nossa mãe. Milhares de quilômetros encobertos por asfalto, edificações estabelecidas em aclives acentuados, que antes eram encobertos por vegetação, que não só absorvia a água das chuvas, mas também ajudava a refrigerar o ambiente e oxigenar a atmosfera. Aterros assoreamento de rios, mudanças de cursos d`água, oclusão de nascentes, contaminação de rios, enfim. Essas são situações típicas que interferem no processo da dinâmica natural do ambiente, que demanda a urgente e inafastável implementação do conceito de sustentabilidade, ou seja crescer, sempre, com respeito, planejamento e tecnologia. Que nossos direitos sejam respeitados, lutaremos por isso e nos faremos ouvir, mas jamais agredindo, nuca ofendendo, respeitando sempre. Desordem e conflito têm destino certo: a Delegacia de Policia. Na melhor das hipóteses.