O que faríamos se recebemos em nossa mesa de trabalho um telefonema de uma criança de doze anos, pedindo ajuda e alimento porque sua irmã de cinco anos de idade estaria com fome e ele não teria nada em casa, onde se encontravam trancadas, juntamente com outra criança de cinco meses? Foi justamente o que aconteceu dias atrás, quando o atendente da Polícia Militar recebeu o telefonema de Itapecerica da Serra, nesses exatos contornos. Com a experiência de quem já viveu a dor dos outros, e experimentou o calor e a responsabilidade de um socorro de tal clamor, podemos afirmar que os sentimentos são maiores do que nossa capacidade de administrá-los, e todo profissionalismo do mundo se contrapõe à nossa razão e exige que continuemos, lembrando que não julgamos homens, mas sim apuramos fatos, e zelamos pela paz social. É extremamente difícil nesses momentos percebermos que não só as criancinhas que pediam socorro precisavam de ajuda. Um adulto, qualquer adulto, que as coloque nessa situação, quanto mais um pai ou uma mãe, é indivíduo desiquilibrado, que certamente também passou por mazelas durante sua vida, que no mínimo retorquiram seu caráter, distorceram seu entendimento, e banalizaram suas convicções, se é que ele ainda possua alguma. Todo rigor da lei sim, mas jamais um ato de vingança privada. O tempo do olho por olho vai já há dois mil anos e nada de adequado trouxe à humanidade, a não a restringir a barbárie do antigo sistema penal, que anteriormente transcendia a pessoa do agressor, estendendo-se a seus familiares. Caminhamos bastante, mas ainda falta boa estrada que nos acautelemos desses tristes acontecimentos, impedindo que os menos preparados caiam em sua jornada. Enquanto isso, o Disque-Denúncia continua à disposição.