Quem de nós não se emocionou ao presenciar o lastimável fato ocorrido na zona oeste do Rio da Janeiro, quando uma menina de nove anos acabou se ferindo gravemente na cabeça, na presença de dois irmãozinhos ainda mais novos, com uma pistola semiautomática, que se sabe lá por qual motivo, encontrava-se sob um ursinho de pelúcia.
Estamos há oito anos da edição da Lei 10.826, que regulamentou o Sistema Nacional de Armas, e definiu os crimes a elas relativos. Nos defrontamos com penas severíssimas da ordem de oito anos de reclusão e, mesmo se fossem ainda maiores, é certo que o conflito experimentado por esse pai, ainda que inconscientemente, será muito mais profundo, e talvez persista por anos a fio. Dentro de condições normais, a dor sentida pelo pai que viu em seu descuido a iminência da morte da filinha não acha palavras dentro da limitada capacidade humana de linguagem.
Não nos cabe o julgamento desse pai ou mesmo desse lamentável evento, mas evidentemente deve servir-nos de exemplo para que se entendermos necessário possuir uma arma de fogo, seja pela razão que for, desde que legalizada, compreendamos antes a responsabilidade que isso demanda, os cuidados dos quais nos devemos nos cercar para adquirir uma artefato dessa natureza e principalmente, se nos dispusermos a utilizá-la como meio de defesa, se estamos preparados para as decorrências de um embate armado, seja pela factível possibilidade de nos ferirmos gravemente, seja pela possibilidade de tiramos a vida de um semelhante. São coisas que normalmente não pensamos quando nos encontramos em um debate acalorado, principalmente pela rudeza de nossos dias mas que, sem dúvida, afligem a totalidade das pessoas que se envolvem nesse tipo de conflito.
À pequena Ana Carolina, que se encontra internada no Hospital Miguel Couto, no bairro carioca do Leblon, nossas orações e nosso sincero desejo de saúde e rápida recuperação. A seu pai, Raimundo, nossa solidariedade e a esperança de que compreenda sua responsabilidade e consiga superar o trauma.